sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Pré-História



Homem de Neanderthal

Pré-História


A Pré-História corresponde ao período da história que antecede a invenção da escrita (evento que marca o começo dos tempos históricos registrados), que ocorreu aproximadamente em 4000 a.C..

Também pode ser contextualizada para um determinado povo ou nação como o período da história desse povo ou nação sobre o qual não haja documentos escritos. Assim, no Egito, a Pré-História terminou aproximadamente em 3500 a.C., enquanto que no Brasil terminou em 1500 e na Nova Guiné ela terminou aproximadamente em 1900. Para muitos Historiadores o próprio termo "Pré-História" é errôneo, pois não existe uma anterioridade à História e sim à escrita.

A transição para a "História propriamente dita" se dá por um período chamado proto-história, que é descrito em documentos, mas ou são documentos ligeiramente posteriores ou documentos externos. O termo Pré-História mostra, portanto, a importância da escrita para a civilização ocidental.

Uma vez que não há documentos deste momento da evolução humana, seu estudo depende do trabalho de arqueólogos ou antropólogos, como por vezes de outros cientistas, que analisam restos humanos e utensílios preservados para determinar o que acontecia.

Períodos pré-históricos


Dentro da divisão da história elaborada pelos europeus, a origem da humanidade e as primeiras formas de organização dos grupos humanos constituem, o período mais longo de nosso passado. Assim, para facilitar seu estudo, esse período foi também dividido em três grandes momentos: Paleolítico, Neolítico e Idade dos Metais.
Eolítico - dentro deste período, há um milhão de anos, teria surgido o Homo erectus. De um modo geral esta designação está em desuso considerando-se o Paleolítico o primeiro período pré-histórico.

Paleolítico Inferior

O Paleolítico Inferior é a mais antiga subdivisão do Paleolítico, período mais antigo da Pré-História do homem. Ele vai de 2.500.000, quando os primeiros vestígios de ferramentas de pedra aparecem no registo arqueológico, até 300 ou 100 mil anos atrás, quando mudanças evolucionárias e tecnológicas importantes levaram os historiadores e arqueólogos a uma nova divisão, o Paleolítico Médio.

Os mais antigos hominídeos, os australoptecínios, personificados por Lucy, não eram utilizadores avançados de ferramentas de pedra e é provável que fossem presa de animais maiores[carece de fontes]. Utilizavam machado de mão e viviam a céu aberto, próximo ao vale dos rios.


Os primeiros fósseis do género Homo surgem a menos de três milhões de anos[carece de fontes]. Eles podem ter se originado dos australoptecíneos ou de um braço filogenético diferente de primatas. É nesse período que o homem passa a andar em duas pernas[carece de fontes].

O Homo habilis, como os da Garganta de Olduvai é muito mais semelhante aos humanos modernos. O uso de ferramentas de pedra foi desenvolvido por esta espécie por volta de 2,5 milhões de anos atrás, antes de serem substituídos pelo Homo erectus, por volta de 1,5 milhão de anos atrás. O Homo habilis aprendeu a usar o fogo como método de apoio na caça[carece de fontes].

Eventos

Por volta de 650 mil anos - Glaciação de Günz
Por volta de 550 mil anos - o homem aprende a controlar o fogo
Pré-história - Período Paleolítico Inferior (de 500 a 300 mil anos) - Idade da pedra lascada
Por volta de 450 mil anos - Glaciação Mindel


O paleolítico médio é um conceito que compreende um espaço temporal, cultural e geográfico mais restrito do que os períodos do Paleolítico que o antecedem e precedem.

O homem de neandertal, a sua distribuição geográfica (Europa), as técnicas de talhe (indústrias mustierenses) e a sua cronologia (200.000 a 30.000 anos b.p.) são características que definem este período da pré-história antiga.

O homem abandonou o uso dos machados de mão e passaram a utilizar as lascas de pedras em outras armas, como exemplo, as flexas.

Eventos
Pré-história - Período Paleolítico Superior
Por volta de 300 mil anos - Glaciação Riss
Por volta de 150 mil anos - Glaciação Würm
Por volta de 100 mil anos - Surge o Homo sapiens sapiens
Por volta de 50 mil anos - desenvolvimento da linguagem humana


O Paleolítico Superior é um conceito que abrange o fim do Paleolítico Médio e início do Mesolítico. Nele foram encontrados anzóis primitivos, bifaces, machados de mão, agulha de osso, entre outros. É também caracterizado pela magia simpática praticada pelo Homem daquele período. Também é caracterizado pela arte rupestre, praticada pelos Homens Primatas.

Outros dois grandes avanços foram o desenvolvimento da agricultura e a domesticação dos animais. Cultivando a terra e criando animais, o homem conseguiu diminuir sua dependência com relação a natureza. Com esses avanços, foi possível a sedentarização, pois a habitação fixa tornou-se uma necessidade. Neste período ocorreu também a divisão do trabalho por sexo dentro das comunidades. Enquanto o homem ficou responsável pela proteção e sustento das famílias, a mulher ficou encarregada de criar os filhos e cuidar da habitação.




Eventos

Período Mesolítico - os seres humanos fazem uso da pedra lascada
15300 a.C. - Presença humana na Lapa Vermelha, Lagoa Santa, MG.
11000 a.C. - Cerâmica em Mte. Alegre, PA
Pontas de lança encontradas na caverna de Fort Rock, Oregon, EUA.



Neolítico


O Neolítico, também chamado de Idade da Pedra Polida (por causa de alguns instrumentos, feitos de pedra lascada e pedra polida), é o período da Pré-História compreendido aproximadamente entre 12000 a.C. e 4000 a.C.. Durante este período surge a agricultura, e a fixação inerente ao cultivo da terra provoca o sedentarismo (moradia fixa em aldeias) e o desenvolvimento da vida em sociedade, assim como o avanço cultural e o aumento da população.

As primeiras aldeias são criadas próximas a rios, de modo a usufruir da terra fértil (onde eram colocadas sementes para plantio) e água para homens e animais. Também neste período começa a domesticação de animais (cabra, boi, cão, dromedário, etc). O trabalho passa a ser dividido entre homens e mulheres, os homens cuidam da segurança, caça e pesca, enquanto as mulheres plantam, colhem e educam os filhos. A disponibilidade de alimento permite também às populações um aumento do tempo de lazer e a necessidade de armazenar os alimentos e as sementes para cultivo leva à criação de peças de cerâmica, que vão gradualmente ganhando fins decorativos.

Surge também o comércio, o dinheiro, que facilita a troca de materiais, e que era, na época, representado por sementes. Estas sementes, diferenciadas umas das outras, representam cada tipo, cada valor. Uma aldeia, ao produzir mais do que o necessário e, para não perder grande parte da produção que não iria ser utilizada, troca o excesso por peças de artesanato, roupas e outras utensílios com outras aldeias.

Neste momento deixam de usar peles de animais como vestimenta, que dificultam a caça e muitas outras atividades pelo seu peso, e passam a usar roupas de tecido de lã, linho e algodão, mais confortáveis e leves.

Essas mudanças de comportamento foram consideradas tão importantes que o arqueólogo Gordon Childe designou este momento de Revolução Neolítica, ou Revolução agrária, fator decisivo para a sobrevivência dos povos nesse período.

Os estudiosos acreditam que como o homem da Idade da Pedra não conhecia a escrita, ele gravava desenhos nas paredes das cavernas, que utilizava como meio de comunicação.

O Neolítico, pelo fato de ter sido o último período pré-histórico, terminou com o surgimento da escrita. A transição do Neolítico para a Idade dos Metais (Idade do Bronze e Idade do Ferro) caracterizou a transição da Pré-História para a História.


Características

- Iniciou-se no final da era glacial, há cerca de 12.000 anos.
- A crosta terrestre aquece, aumentando o nível dos mares e resultando em alterações climáticas.
- Formam-se grandes rios e desertos, além de florestas temperadas e tropicais.
- Animais de grande porte desaparecem e dão origem à fauna que conhecemos hoje.
- A vida vegetal modifica-se, favorecendo a sobrevivência humana.
- Dão-se grandes conquistas técnicas do homem que, aliadas às transformações do ambiente, permitem ao ser humano controlar gradativamente a natureza.
- O homem aprende aos poucos a reproduzir plantas, domesticar animais e estocar alimentos.
- A agricultura e a domesticação de animais favorecem um sensível aumento populacional em algumas regiões.
- Ampliam-se as conquistas técnicas, como a produção de cerâmica.
- Os povos aprendem aos poucos como se organizar e trabalhar em sistemas cooperativos.


Mesolítico

Por volta do 10º milénio a.c, ou seja, há cerca de 12 mil anos, no Periodo Mesolitico, deram-se várias transformações climáticas, que viriam a criar condições favoráveis para a prática da agricultura e criação de animais. A invenção da agricultura ocorreu nos vales férteis dos grandes rios do Oriente Próximo, em uma região chamada Crescente fértil.

No 8º milénio a.c já se cultivavam cereais como trigo e cevada. O feijão, o milho e o arroz foram das primeiras culturas que o homem realizou. Na mesma época animais como o cão, o carneiro ou a cabra já eram domesticados. O homem passou assim de nômade a agricultor e pastor. Cria-se, assim, um novo tipo de economia, chamada de economia de produção, em que os seres humanos já sabem produzir os alimentos necessários à sua sobrevivência, graças à criação de animais e ao cultivo da terra.

Economia do Neolítico

Com a criação de animais e a agricultura, o homem sentiu necessidade de se fixar a um lugar. Surgiram assim os primeiros aldeamentos, normalmente junto a grandes rios como o Nilo, Eufrates ou Tigre, devido à necessidade de água para regar e fertilizar os campos. Com a criação dos aldeamentos e com uma nova economia, surgiu a chamada divisão do trabalho e a diferenciação social. Estes dois novos tipos de sobrevivência baseavam-se no sexo e na idade: os mais velhos exerciam a autoridade sobre os mais novos. Enquanto que os homens se dedicavam aos rebanhos e à caça, as mulheres praticavam a agricultura e encarregavam-se das tarefas domésticas. Com a criação dos aldeamentos, a população cresceu. A medida que isso aconteceu, as tarefas e a divisão do trabalho foram-se tornando mais complexas. Enquanto que uns produziam e cuidavam do gado e da terra, outros dedicavam-se à criação de vestuário e à defesa do território. Assim, os guerreiros, feiticeiros e sacerdotes passaram a ter mais autoridade sobre os outros, destacando assim a diferenciação social.

Progressos Técnicos

Se repararmos na palavra Neolitico, vimos que "neo", de novo, juntamente com "litos",de pedra, forma a expressão pedra polida. E, de facto, o Neolitico caracteriza-se essencialmente pelo surgimento da pedra polida, que era usada em machados e outros instrumentos. Técnicas como a cerâmica, a tecelagem, cestaria, moagem, a descoberta da roda e a tracção animal mostram os grandes progressos técnicos que se observaram neste periodo.

Habitações

Nas casas redondas, a familia sentava-se em bancos de pedra, encostados às paredes. Os lugares eram ocupados segundo a idade e posição social. Os materiais de construção eram sólidos, como a argila seca ou madeira, os alicerces eram em pedra ou pilares de madeira, e cobertos por terraços ou telhados feitos de colmo. As camas normalmente eram feitas do mesmo material que as paredes. As casas tinham apenas uma divisão com uma lareira para a aquecer.

Alimentação e Vestuário

A alimentação baseva-se em papas de aveia, pão escuro e farinha de bolota. Só se comia carne, manteiga, vinho, queijo ou cerveja de cevada em dias de festa.

Quanto à roupa, os homens usavam saios de lã negra ou de tecidos de pele de cabra, que caíam sobre bragas, uma espécie de calças curtas e largas. As mulheres usavam roupas coloridas e cobriam a cabeça com véus que caíam até aos olhos, escondendo os cabelos entrançados. No pescoço, braços e orelhas usavam pesados adornos de ouro, prata ou cobre.

Cultura

O cultivo da terra deu origem a cultos agrários, já que os homens acreditavam que havia fenómenos naturais e forças sobrenaturais que influenciavam as colheitas. Surgiram assim as primeiras estátuas, que mostram uma deusa, ligando a fertilidade da mulher à fertilidade da terra. Outra manifestação de arte foram a criação dos monumentos megalíticos, para o culto funerário. Os mais simples são os menires e as antas. O agrupamento de vários menires em linha ou circulo dá-se o nome de cromeleques.


menires



Ilustração do que poderia ser uma aldeia neolítica

sábado, 5 de janeiro de 2008

D.João VI

D.João VI

Dom João VI (Lisboa, 13 de maio de 1767 — Lisboa, 10 de março de 1826), batizado João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís António Domingos Rafael de Bragança, cognominado O Clemente, foi Rei de Portugal entre 1816 e a sua morte. Segundo dos filhos de D. Maria I de Portugal e de seu tio Pedro III, herdeiro da coroa como Príncipe do Brasil e 21º Duque de Bragança após a morte do irmão mais velho José, Duque de Bragança em 11 de setembro de 1788, vitimado pela varíola.
Triste ao saber que se ia tornar o Rei de Portugal, costuma dizer-se que chegou a chorar. Tinha 21 anos e até então merecera a educação e as atenções de um secundogênito. Foi sucessivamente Duque de Bragança, Príncipe do Brasil, Príncipe Regente de Portugal, Príncipe Real do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, Rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, Rei de Portugal e Imperador Titular do Brasil.
Casamento

Em 1785, casou-se em Madrid por procuração em 27 de março e em Lisboa em 9 de junho em pessoa com a Infanta Carlota Joaquina de Bourbon, de 10 anos, filha de Carlos IV de Espanha e de Maria Luísa de Parma, embora não consumassem o casamento senão em 1790.
Batizada Carlota Joaquina Teresa Cayetana de Borbon y Borbon, a infanta nascera em Aranjuez, em 25 de abril de 1775, e morreu no palácio de Queluz em 7 de janeiro de 1830, estando sepultada em São Vicente de Fora.
D. Carlota Joaquina teve três filhos e seis filhas.

Regência

Desde 10 de fevereiro de 1792, dada a doença mental da mãe, assumiu o poder, assegurando a direção dos negócios públicos, passando a despachar os decretos em seu nome; sete anos mais tarde, em 15 de julho de 1799, e até subir ao trono, governou o país como Príncipe Regente pois uma Junta Médica reconheceu a impossibilidade de recuperação de sua mãe.
Em 16 de dezembro de 1815 foi Príncipe Regente do Reino Unido de Portugal, Brasil e dos Algarves. Reviveu a Ordem da Torre e da Espada em 13 de maio de 1808, foi fundador da Ordem de Nossa Senhora de Vila Viçosa em fevereiro de 1818.
Seu reinado decorre em época de grandes mudanças mundiais e em Portugal: a Revolução Francesa e a consequente guerra europeia, o Bloqueio Continental, a campanha do Rossilhão, a guerra com a Espanha com a perda de Olivença, as invasões francesas, a transferência da corte portuguesa para o Brasil (1808-1821), a revolução liberal do Porto e a independência do Brasil. Foi a derrocada de um mundo e o nascimento de outro.


Alianças com Espanha



Dom João VI com Carlota Joaquina.



Em 1793, aliou-se à Espanha no combate à Revolução Francesa, que ameaçava todas as monarquias europeias. Em 1801, Napoleão, que reiniciara a luta contra a Inglaterra, e procurava aliados, convenceu a Espanha a atacar Portugal naquela que ficou conhecida como a Guerra das Laranjas e D. João VI, não tendo condições de enfrentá-la, pediu a paz, prometendo fechar seus portos à Inglaterra. Contudo, a economia portuguesa estava profundamente ligada à Inglaterra e também corria o risco de ver seus portos bloqueados pela poderosa armada inglesa. Ao mesmo tempo, Carlota Joaquina, fiel a suas origens espanholas, conspirava na corte portuguesa e procurou, inclusive, tomar a regência. D. João VI tentou ganhar tempo, mas em 1806 Napoleão I fez-lhe um ultimato: ou fechava os portos à Inglaterra ou a França invadiria Portugal.

Transferência da corte para o Brasil

Em 1807, D. João decidiu a transferência da corte portuguesa para o Brasil (1808-1821), evitando ser aprisionado com toda a família real e o governo, tornando possível manter a autonomia portuguesa a partir do Rio de Janeiro. Manteve assim também o Brasil em poder de Portugal, embora isto o fez mais dependente em relação à Inglaterra, com a imposição da abertura dos portos brasileiros ao comércio internacional e o tratado Luso-Britânico de 1810, desastroso para a economia portuguesa, embora (ou por isso mesmo) decisiva para o progresso e a independência brasileira.
Embarque para o Brasil do Príncipe Regente de Portugal, D. João VI, e de toda a família real, no Porto de Belém, às 11 horas da manhã de 27 de novembro de 1807. Gravura feita por Francisco Bartolozzi (1725-1815) a partir de óleo de Nicolas Delariva.
Embarcaram para o Brasil a rainha D. Maria I, D. João, seus filhos D. Pedro e D. Miguel, sua esposa D. Carlota Joaquina, suas filhas as infantas Maria Teresa de Bragança, Maria Isabel de Bragança, Maria da Assunção de Bragança, Isabel Maria de Bragança, Maria Francisca de Assis e Ana de Jesus Maria de Bragança, ainda estavam as infantas D. Maria Ana Francisca e a viúva D.Maria Francisca Benedita de Bragança, irmãs da Rainha, e o infante Pedro Carlos da Espanha.
Em 22 de Janeiro de 1808, D. João chegou com a corte a Salvador. Ante as disputas entre a Inglaterra e a França, chegou a oferecer o casamento de seu filho D. Pedro de apenas nove anos, com a sobrinha do monarca francês, projecto que fracassou.
Na Bahia em 28 de Janeiro de 1808 decretou a abertura dos portos brasileiros às nações amigas - entre as quais, evidentemente, a Inglaterra. Aconselhado por José da Silva Lisboa, que mais tarde fará visconde de Cairu, decretou a abertura dos portos brasileiros, pondo fim ao Pacto Colonial. Foi o ato que mais celebrizou seu governo na América portuguesa. Foi a Inglaterra a maior beneficiada pois em 1810 se assinou o tratado de comércio e navegação que fixava em 15% a taxa alfandegária sobre produtos ingleses vendidos para o Brasil. Grande privilégio, já que os demais países pagavam uma taxa de 24% e Portugal 16%! Somente em 1816 igualaram-se as taxas inglesa e portuguesa.

Em março, D. João transferiu-se para o Rio de Janeiro, transformando a cidade em sede da Monarquia. Ali formou o seu Ministério, aboliu a proibição da criação de indústrias, atacou e ocupou a Guiana Francesa, fundou escolas, bibliotecas, etc. Enquanto isso, na Europa, Napoleão depunha o rei de Espanha e em seu lugar colocava José Bonaparte, seu irmão.
O documento mais importante no Rio de Janeiro foi a Carta Régia de 7 de março de 1810, cuja redação se deve a D. Rodrigo de Souza Coutinho. Em primeiro lugar, sintetiza e justifica as medidas e compromissos estabelecidos pela corte no Rio, procurando tranquilizar politicamente os interesses econômicos dos destinatários na metrópole; em segundo lugar, procura minimizar os efeitos do tratado luso-britânico de 1810, anunciando um conjunto de providências que garantiriam o desenvolvimento econômico do reino, sobretudo na sua componente continental. O texto desemboca na preferência por um modelo de desenvolvimento centrado na agricultura: a industrialização teria de ser preterida em benefício de um desenvolvimento agrícola que assegurasse simultaneamente uma especialização produtiva vantajosa e uma indução futura de desenvolvimento das manufaturas.
Após a queda de Napoleão, em 16 de Dezembro de 1815 o Príncipe Regente D. João elevou o Brasil a reino, por pressão inglesa e para poder sentar-se entre os plenipotenciários do Congresso de Viena; em 20 de março de 1816, morta D. Maria I, assumiu a coroa como D. João VI, o 27º Rei de Portugal.

Principais medidas

No Brasil, o governo de D. João VI tomou as seguintes excelentes medidas (que se impunham, para manter a colônia): liberação da atividade industrial em 1808; autonomia administrativa em 1815; permissão de ter imprensa; fundação da academia militar, da marinha e de um hospital militar, criação de uma fábrica de pólvora no Rio de Janeiro; criação do ensino superior (duas escolas de medicina), pois até então Portugal nunca permitira uma universidade, ao contrário da Espanha em seus domínios da América espanhola; criação do Jardim Botânico e da biblioteca real, criação da academia das Belas Artes, criação do Banco do Brasil.
A presença da corte no Brasil impulsionou a criação do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarve que, rejeitado posteriormente pela metrópole na tentativa das Cortes de fazer retornar o poderoso território à condição de colônia, gerou o descontentamento que provocou a 7 de setembro de 1822 a proclamação da independência pelo herdeiro da coroa portuguesa, o futuro D. Pedro I no Brasil e D. Pedro IV em Portugal.
Sobre o Reino Unido, diz o historiador Octávio Tarquínio de Sousa em História dos Fundadores do Império do Brasil, volume IX:
A carta de lei de 16 de dezembro de 1816, elevando o Brasil à categoria de reino unido aos de Portugal e Algarves, concedeu-nos pacificamente todas ou quase todas as características de um país soberano. Por outro lado, a presença de D. João no Brasil concorreu de maneira decisiva para fortalecer a unidade nacional, posta à prova no momento da revolução do Porto de 1820.
Mesmo antes da independência, os portugueses da metrópole, prejudicados com a perda dos mercados brasileiros, voltaram-se contra o rei; em 1820 eclodiu uma revolta no Porto, exigindo, o fim da monarquia absoluta, a convocação de uma assembléia constitucional e a volta de D. João. Este, com sua tática de protelar soluções, não respondeu às exigências. No Brasil existia receio, pois era opinião geral que a volta do rei poderia significar a retirada do país da autonomia conquistada.
De início o movimento constitucionalista de Portugal repercutiu favoravelmente no Brasil. A ilusão durou todo o ano de 1821. O regime de Reino Unido era solução que em geral satisfazia, salvo um pequeno grupo antilusitano ou mais teoricamente convencido da superioridade da forma republicana de governo. As grandes figuras adotaram tal posição, prova disso foi a aceitação do mandato de deputados por parte de numerosos brasileiros.



Regresso a Portugal

Finalmente, em fevereiro de 1821, tropas portuguesas dos quartéis do Rio de Janeiro amotinaram-se, exigindo que D. João VI retornasse a Portugal. Houve conflitos e mortes e só o rei poderia evitar uma guerra civil. Assim, nomeou Regente seu filho primogênito em 22 de abril de 1821 e quatro dias depois embarcou para Lisboa. Ao chegar, jurou a Constituição. Já o seu herdeiro, Pedro de Bragança, no entanto, recusava-se a regressar exclamando, em 9 de janeiro de 1822, ante instâncias do Senado da Câmara do Rio de Janeiro, Diga ao povo que fico!. A 7 de Setembro de 1822, Pedro declara a independência do Brasil. Proclama-se Imperador. O resto do reinado de João VI é passado em tentativas de reversão desta medida e de pacificação entre os filhos Pedro e Miguel.

Governo em Portugal

Contudo, a constituição jurada pelo rei vigoraria apenas durante alguns meses. Seguem-se a Vila-Francada em 1823 e a Abrilada em 1824, movimentos absolutistas encabeçados por D. Miguel.
Vencido e expatriado D. Miguel, D. João VI consagra os últimos anos do seu reinado a tentar resolver o problema suscitado para Portugal pela independência do Brasil e, por altura da sua morte, sonhava ainda com a reunião dos dois países na pessoa de um só soberano. Em 1825, João VI nomeou Pedro I seu sucessor, apesar da rebeldia demonstrada, na tentativa de reunir Portugal e Brasil sob a mesma coroa. Porém, nesse ano, em 29 de Agosto, D. João VI viu-se obrigado a reconhecer a independência do Brasil e o filho como Imperador do Brasil. Foi-lhe reconhecido pelo tratado entre os dois países o título honorífico de Imperador do Brasil, embora não seja usual incluí-lo na relação dos monarcas do Brasil independente; e a esse título assinou as cláusulas do aludido tratado de reconhecimento da independência, firmado por mediação inglesa entre o Brasil e Portugal, pelo qual o Brasil assumiu dívidas contraídas por Portugal no valor de mais de 2 milhões e meio de libras esterlinas - contribuindo para desgastar a imagem do pai e do filho, João VI e Pedro I, aos olhos dos brasileiros.

Morte de Dom João VI.

Faleceu em Março de 1826 após adoecer por alguns dias. De sua causa mortis, suspeitou-se ter sido por envenenamento. Recentemente uma equipa de pesquisadores exumou o pote de cerâmica chinesa que continha as suas vísceras e que se encontrava enterrado sob as lages da capela dos Meninos da Palhavã no mosteiro de São Vicente de Fora. Pedaços do seu coração foram reidratados e submetidos a análises, num estudo dirigido pelo Prof. Doutor Armando Santinho Cunha, o que veio a comprovar a suspeita de envenenamento por arsénico. Contam as lendas que o rei fora envenenado com laranjas colhidas no palácio de Belém. Sabe-se que de facto o rei comeu laranjas, pois isso consta dos relatórios médicos da época, e só depois de ter comido tais laranjas é que D. João adoeceu.
Após o anúncio da sua morte, D. Pedro I do Brasil foi reconhecido pelo governo vigente como rei de Portugal, como Pedro IV. Acumulou as duas coroas por poucos dias, o tempo de outorgar uma Carta Constitucional ao reino europeu e de abdicar em nome de sua filha Maria da Glória, a rainha Maria II. Para os partidários do seu irmão absolutista, D. Miguel, porém, o advento de Pedro IV e por conseguinte o de Maria II seriam considerados ilegítimos, porque D. Pedro, sendo Imperador de uma potência estrangeira, não tinha quaisquer direitos em Portugal.
D. João foi sepultado no Panteão dos Braganças, onde viria também repousar a sua polémica esposa, a seu lado.

Apreciação

Diz a obra «Brasiliana da Biblioteca Nacional», Rio de Janeiro 2006, página 208:

«A trajetória pessoal do monarca, acrescida de numerosas estórias relativas à sua vida familiar, serve a muitas interpretações. Se existe a concordância de todos os autores, que se basearam no depoimento daqueles que o conheceram de perto, quando à sua bondade e afabilidade, todo o resto é controvérsia. Para uns, era inteiramente despreparado para governar e covarde. Outros apontavam sua visão de estadista. Teria sido o agente fundamental de uma inteligente manobra política que enfrentara a hegemonia napoleônica e resguardara a coroa portuguesa das humilhações sofridas por outras monarquias européias. Além disso, garantira a integridade do território ultramarino português, mantendo-se na plenitude de seus direitos, com a trasladação da corte. E as transformações políticas e econômicas ocorridas no Brasil de então, onde as marcas dos grilhões coloniais eram muito visíveis, preparavam o terreno para a emancipação política, tornando o Brasil «a primeira monarquia no Novo Mundo».

Auguste de Saint-Hilaire considerava o rei despreparado para governar (...) e ressaltava a sua bondade inata. Debret pintava (...) a aparência física desfavorável do real personagem, ressaltando-lhe também a bondade e afabilidade. Luccock enalteceu o caráter do rei, reafirmando sua bondade e atenção. Spix e Martius referem-se aos esforços do governo para a qualificação da mão-de-obra e desenvolvimento da indústria, além de enfatizar o senso de responsabilidade política e as preocupações do monarca. São recorrentes as homenagens a Oliveira Lima como o reabilitador da imagem do monarca. José Augusto França, professor da Universidade Nova de Lisboa, relata que D. João foi objeto da primeira caricatura inventariada em Portugal.




Posteridade

Sua mulher Carlota Joaquina de Bourbon, princesa de Espanha (1775-1830) teve:
- 1 - Infanta Maria Teresa de Bragança, Princesa da Beira (1793-1874).
- 2 - Infante Antônio Francisco de Assis de Bragança e Bourbon, Príncipe da Beira nascido em Queluz, 21 de março de 1795 e morto em Lisboa, 11 de junho de 1801.
- 3 - Maria Isabel de Bragança (1797-1818), casou com Fernando VII de Espanha
- 4 - Pedro IV de Portugal e I do Brasil, Rei de Portugal e Imperador do Brasil (1798-1834).
- 5 - Maria Francisca de Bragança (1800-1834), casou com Carlos de Bourbon, Conde de Molina.
- 6 - Isabel Maria de Bragança (1801-1876)
- 7 - Miguel I, rei de Portugal (1802-1866)
- 8 - Maria da Assunção de Bragança, nasceu em Queluz em 25 de junho de 1805, Morreu solteira em Santarem, 7 de janeiro de 1834 (sepultada em São Vicente de Fora).
- 9 - Ana de Jesus Maria de Bragança (1806-1857), casou com Nuno José de Moura Barreto, 1.º Duque de Loulé

Carlota Joaquina


Carlota Joaquina

Filha primogênita do rei da Espanha Carlos 4° e de sua esposa, D. Maria Luísa Teresa de Bourbon, Carlota Joaquina de Bourbon nasceu em Aranjuez, em 25 de abril de 1775. Com apenas dez anos, casou-se por procuração com o príncipe de Portugal D. João, em um acordo de aliança entre os dois países. Após a morte de seu irmão primogênito D. José, D. João tornou-se príncipe regente e depois rei de Portugal, com o nome de D. João 6°.

Descrita por muitos da época como uma pessoa feia, Carlota possuía um temperamento forte e voluntarioso, o que dificultava a sua relação com outras pessoas. Comenta-se que, durante a lua de mel, teria agredido o seu marido com uma dentada para que o casamento não fosse consumado. Extremamente ambiciosa, a princesa tentou logo dominar o seu marido, que não cedeu às suas vontades, e com isso ela acabou se afastando de sua presença.

Com a doença de D. Maria 1°, que se encontrava com problemas mentais, D. João se muda para o palácio de Mafra, onde governa o país como príncipe regente, enquanto sua esposa continua a viver no palácio de Queluz com a família real.

Carlota Joaquina foi mãe de nove filhos: Maria Teresa, Antonio Pio, Maria Isabel Francisca, Pedro de Bragança (futuro imperador do Brasil), Maria Francisca, Isabel Maria, Miguel I, Maria da Assunção, Ana de Jesus.

Embora, até o último momento tenha tentado continuar em Portugal, com a invasão das tropas napoleônicas ao país, em 1807, foi obrigada a embarcar para o Brasil com o marido, os filhos e o restante da corte portuguesa. No Rio de Janeiro, preferiu sempre morar longe do marido, em locais bucólicos, como Botafogo. Os dois apenas se reuniam em algumas solenidades públicas.

Se estava mal-humorada, mandava chicotear transeuntes que não se ajoelhavam quando ela passava com seu cortejo. Como representava constante perigo a autoridade do príncipe, o regente conseguia espiões para vigiá-la e a princesa subornava outros tantos para estar sempre abastecida de informações do que ocorria no Palácio Real e na Quinta da Boa Vista.

Um dos mais conhecidos espiões foi Francisco Gomes da Silva, apelidado de Chalaça, que serviu várias vezes de espião entre o rei e a rainha e vice-versa. Além de avisá-lo sobre as possíveis conspirações da rainha, estes informantes também contavam ao regente sobre as aventuras amorosas de sua mulher, que possuía vários amantes.

Por diversas vezes, Carlota Joaquina tentou tomar o poder de seu marido. Em 1805, ainda em Portugal, o regente descobriu uma conspiração tramada por sua esposa que, com o apoio de nobres e eclesiásticos, planejava tirar D. João do poder, declarando-o incapaz.

Como a Espanha, seu país natal, se encontrava em poder de Napoleão com toda a sua família prisioneira, Carlota concebeu um plano para governar as colônias espanholas, se transformando na rainha do Rio da Prata. O projeto fracassou, inclusive pela falta de interesse de D. João, que impediu que consumasse o golpe planejado.

Em 1816 foi aclamada rainha, após o falecimento de D. Maria 1ª em 1816. Com a revolução do Porto, em 1820, voltou para a Europa juntamente com a família real. Já em terras lusitanas, manifestou-se contra ao regime constitucional e por isso teve a cidadania portuguesa cassada.

Confinada na Quinta do Ramalhão, conspirou para a volta do absolutismo e, com a morte do marido, estimulou o filho, D. Miguel, a se apoderar da coroa, que lhe seria tirada posteriormente por D. Pedro I do Brasil (D. Pedro IV de Portugal). D. Carlota Joaquina morreu em Lisboa, no palácio de Queluz, em 7 de janeiro de


D.Pedro I

D.Pedro I

Nasceu no palácio de Queluz, Portugal, em 12-10-1798. Filho de D. João VI e dona Carlota Joaquina. Veio para o Brasil com toda a Família Real, devido a invasão de Napoleão contra Portugal. Aos 18 anos casou-se com dona Maria Leopoldina, arquiduquesa d’Áustria, Em 1821 D. João voltou a Portugal deixando D. Pedro regendo o Brasil. No dia da partida disse a seu filho que tu¬do fizesse para o bem do Brasil, antes que aventureiros tomassem o seu lugar. Lembrando-se sempre dos dizeres do pai D. Pedro esforçava-se em unir os brasileiros com os portugueses.


Devido a mudança da Família Real para o Brasil, D. Pedro nunca pôde completar seus estudos, por esse motivo as Côrtes portuguesas chamaram-no à Europa para que os continuasse. O povo brasileiro receava ficar sem o príncipe regente e como prova da confiança que depositava nele, escreveu-lhe uma carta pedindo-lhe que ficasse no Brasil como perpétuo defensor deste País, carta essa que lhe foi entregue por intermédio de José Clemente Pereira. D. Pedro respondeu à carta com uma frase que mais tarde se tornaria histórica: “Como é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto; diga ao povo que fico”, motivo porque o dia 9-1-1822 passou a ser chamado o dia do “Fico”.

Foi então que começaram as lutas entre aqueles que apoiavam o príncipe regente e os que eram a favor da política portuguesa. Nesse meio tempo, D. Pedro viajou para São Paulo para verificar as fortificações do Porto de Santos. No dia 7 de setembro de 1822, quando voltava de Santos, encontrou na Colina do lpiranga, mensageiros que traziam-lhe cartas de Portugal e do Rio. Tomando conhecimento do que dizia D. João VI, D. Leopoldina e José Bonifácio numa das cartas, arrancou a espada e gritou: “Independência ou Morte!”. No dia 12 de outubro de 1822, D. Pedro foi proclamado jmperador do Brasil, sendo a cerimônia de coroação realizada a 1º de dezembro. As tropas portuguesas percebendo sua derrota, retornaram à Lisboa.

Durante seu reinado sucederam-se os seguintes fatos: redigiu uma proclamação ao povo pedindo que os brasileiros se unissem cada vez mais e obrigando aos que fossem contrários, a se retirarem do País; a 3-5-1823, instalou a Assembléia Constituinte, na qual destacaram-se os irmãos Andradas, os quais discordando com os planos de D. Pedro I, tornaram-se oposicionistas, sendo neste mesmo ano dissolvida essa Assembléia e preso e condenado ao exílio José Bonifácio; a 25-3-1824, D. Pedro jurou à 1ª Constituição Brasileira; nesse mesmo ano houve a Revolução Pernambucana. Queriam a proclamação da República. Esta revolução foi denominada Confederação do Equador e chefiada por Frei Caneca e Paes de Andrade; em 1826, faleceram dona Maria Leopoldina, sua esposa, D. João VI, seu pai, tendo ele por esse motivo abdicado da Coroa Portuguesa em favor de sua filha Maria da Glória, princesa do Grão-Pará. Dois anos depois, deu-se a Independência da Província Cisplatina que passou a ser a República do Uruguai. Aos 31 anos, D. Pedro escolhe dona Amélia de Lauchtemberg para ser sua segunda esposa.

Em 1831, abdicou da Coroa do Brasil, pois estava aborrecido com as lutas entre os partidos políticos brasileiros, passando a Coroa a seu filho D. Pedro de Alcântara, que na época contava 5 anos de idade. De volta à Portugal, D. Pedro reconquistou o trono de que seu irmão D. Miguel havia se apoderado violentamente. Conquistou novamente os portugueses, derrotando aos que favoreciam D. Miguel. Mas não permaneceu muito tempo com a alegria de tornar-se querido pelos portugueses, tendo sido acometido pela tuberculose, que viria encerrar sua vida, em 24-09-1834 (no mesmo palácio de Queluz, onde havia nascido há 36 anos).


Seu nome completo é: PEDRO DE ALCÂNTARA FRANCISCO ANTÔNIO JOÃO CARLOS XAVIER DE PAULA MIGUEL RAFAEL JOAQUIM JOSÉ GONZAGA PASCOAL CIPRIANO SERAFIM DE BRAGANÇA E BOURBON
http://www.brasilescola.com/historiab/dom-pedro.htm

Porto Feliz



Porto Feliz: antiguidade do porto de Araritaguaba


Posto que date de 1.720 a ereção da Capela de Nossa Senhora da Penha, à margem esquerda do rio Tietê, no local denominado Araritaguaba, capela erguida pela piedade e devoção de Antonio Aranha Sardinha e Antonio Cardoso Pimentel, antes dessa data era já, o porto de Araritaguaba, conhecido e aproveitado pelos valorosos sertanistas paulistas em suas viagens pelo sertão brasileiro.

Em 1.628, ao fazer Dom Luiz de Céspedes Xeria, nomeado capitão-general do Paraguai, a sua viagem do Rio de Janeiro à Ciudad Real de Guairá (no Paraguai), foi daí, dessas barrancas de Araritaguaba que ele iniciou a sua viagem fluvial; e isto afirmamos tendo à vista o seu mapa ou roteiro, o local que nele coloca o seu ponto de partida no rio Tietê, considerando para tal afirmativa o ponto em que marca esse porto e os rios e ribeirões assinalados nas proximidades aquém e além desse local.

Mais de um mês ficou Dom Céspedes Xeria nesse porto, ao qual dera o nome de Nossa Senhora de Atocha, levando todo esse tempo em construir canoas e em outros preparativos necessários para a sua longa viagem...

O fato de ir Dom Luiz de Céspedes a procura desse porto para a sua viagem ao Paraguai, nos induz a crer que essa rota era já conhecida e que em São Paulo de Piratininga lhe fora indicada e isto nos leva a certeza que esse porto além de conhecido era, também, aproveitado pelas primeiras expedições dos paulistas que, por via fluvial, se internavam pelo sertão e das quais nos falam os antigos cronistas...

Pelo que acabamos de expor, vê-se que muito e muito antes do porto de Araritaguaba se tornar célebre pelas grandes expedições monçoeiras, que dali partiram para a conquista do Paraguai e das minas de Cuiabá, era já conhecido e aproveitado desde o começo da era seiscentista, e, talvez, mesmo antes pelos sertanistas paulistas. Também o porto de Pirapitingui, de que nos falam as antigas crônicas, outro não era senão o de Araritaguaba; e se assim não fosse, não iriam Aranha Sardinha e Cardoso Pimentel, havendo tanta terra nas proximidades dos povoados, pedir suas sesmarias em lugar tão deserto e desconhecido.

Conta-nos Moreira Pinto que Araritaguaba fora antiga aldeia de índios guayaná; pode ser, pois pouco acima, às margens do mesmo rio, nas proximidades do lugar onde hoje se ergue a cidade de Salto, existiu a aldeia de Paranaytu de índios dessa mesma nação. (1)

Caminhos de penetração da capitania de São Paulo

Também, em 1.629, o grande sertanista André Fernandes iria conduzir, sob sua guarda, para o Paraguai, pelo mesmo porto de Araritaguaba, D. Vitória de Sá, senhora fluminense e esposa de Céspedes Xeria. Também desceram, no século XVII, o rio Tietê, Francisco Pedroso Xavier (para invadir e assolar, em 1.675 e 1.676, reduções espanholas), Brás Mendes Pais, que se encontrava em Mato Grosso, em 1.682, com seu irmão Pedro Domingos Pais e Pedro Leme da Silva, o Torto; Manuel de Frias Taveira, que fez uma incursão contra os índios do Itati, Gaspar de Godói Colaço que devassou, em 1.698, a região da Vacaria de Mato Grosso, onde já havia estado anteriormente, em 1.676, com Pedroso Xavier; Amaro Fernandes Gauto, partícipante da expedição de Godói Colaço, de 1.698, também sobre Vacaria de Mato Grosso e muitos outros que a história não conseguiu registrar.

Essas viagens do século XVII e das duas primeiras décadas do século seguinte eram penosas e cheias de riscos e dificuldades. Os paulistas embarcavam no rio Tietê, nas imediações de Itu ( Porto Feliz ), desciam o Anhembi ( rio Tiete ) e depois o Paraná até as vizinhanças de Sete Quedas, onde adentravam uns, rumo ao Sul, galgando a Serra do Maracaju para alcançarem o Guairá; outros marchavam para Oeste, pelo vale do Apa ou Piraí, em busca do Itati, ou, então, como terceira alternativa, tomavam direção NO para descerem, desde suas cabeceiras, o Mbotetéu (ou Miranda).

Pelos idos de 1.685, o sorocabano Paschoal Moreira Cabral Leme, o futuro descobridor das minas de Cuiabá, instalou-se, com sua comitiva, à margem do Mbotetéu, depois Miranda, no sul de Mato Grosso, onde os paulistas expandiram os seus domínios pelos campos da Vacaria, margens do Iguatemy e terras da Serra do Maracaju. Paschoal Moreira Cabral, numa dessas investidas contra os índios acabou encontrando, casualmente, em 1.718, nas margens do Coxipó-Mirim, mostras de ouro. Diante do promissor achado, os bandeirantes fizeram pesquisas mineradoras, com o auxílio de João Antunes Maciel e outros, até serem atacados pelos índios. Todavia, quando escasseavam as esperanças e toda a expedição sofria o risco de extermínio, apareceu, inesperadamente, a bandeira salvadora de Fernando Dias Falcão. Assim, como escreveu Capistrano de Abreu, Sem serem procuradas apareceram as minas de Cuiabá (...) as notícias (...) levadas ao povoado, agitaram a população e levianamente se lançou à terrível jornada que começava no Tietê ( porto de Araritaguaba-Porto Feliz ) e prosseguia pelo Paraná...(2)
(1) Francisco Nardy Filho - O Estado de São Paulo - 25 de outubro de 1.940, pg. 6 (Licença USP-SP em 1995)
(2) Anais do Museu Paulista, tomo XXXI, 1.982, artigo Caminhos de Penetração da Capitania de São Paulo, Paulo Pereira dos Reis, páginas 304 e 306.


"Acervo Museu Republicano de Itu/Museu Paulista-USP - Reprodução de 1995"






Porto Feliz: Origem e fundação



Segundo contam as crônicas, a capela de Nossa Senhora da Penha de Araritaguaba, origem da atual cidade de Porto Feliz, foi fundada no correr do ano de 1.721 por Antonio Cardoso Pimentel e Antonio Aranha Sardinha, em terra da sesmaria deste ultimo. O que consta, porem, do Livro Tombo da Igreja Matriz de Porto Feliz leva me a crer não haver Antonio Sardinha tornado parte alguma nessa fundação.

"... ereção e instituição da Capela de Nossa Senhora da Penha de Araritaguaba edificada e feita ao pé do rio Tietê, vizinho do sitio de Antonio Cardoso Pimentel já falecido o qual a fez e se benzeu na era de 1.700 anos pelo que dizem os mesmos caseiros..."

Ai aparece como único fundador Antonio Cardoso Pimentel, sendo a data de fundação 1.700 e não 1.721. Haja visto terem sido isso escrito nesse Livro Tombo pelo segundo vigário de Araritaguaba, padre Francisco de Campos, em junho de 1.747, de acordo com o que ouvira de pessoas que assistiram a fundação dessa capela. Tanto no termo de doação do patrimônio, como em outros documentos constantes desse Livro Tombo e referentes a essa fundação, não aparece o nome de Antonio Sardinha.

O padre Francisco de Campos, ituano, antes de, em 5 de junho de 1.717, haver tomado posse do cargo de vigário de Araritaguaba, já ali residia, desde há muitos anos, em companhia de seu irmão padre Felipe de Campos Bicudo, também ituano, e primeiro vigário de Araritaguaba, cuja posse se dera em 9 de março de 1.728. Devia, pois, o padre Francisco de Campos estar muito bem informado quanto a essa fundação, e, se não menciona o nome de Aranha Sardinha, é porque este parte alguma teve nessa fundação.

Tendo Antonio Cardoso, instituidor e protetor dessa capela, falecido em Itu no correr do ano de 1.721, foi em substituição nomeado seu filho José Cardoso Pimentel para protetor. Quando este seguiu para Cuiabá, em cujo caminho pereceu nas mãos dos índios paiaguás, foi nomeado em seu lugar Cristovão Borges, casado com uma neta do fundador. Ora, se Aranha Sardinha houvesse sido co fundador dessa capela, caberia a ele, por morte de Cardoso Pimentel, o titulo de instituidor e protetor, o que não aconteceu.

Aranha Sardinha obteve a sua sesmaria de Araritaguaba por carta de 5 de fevereiro de 1.728, cuja confirmação data de 18 de agosto de 1.732. Portanto, em 1.721 não possuía ainda a sesmaria em cujas terras foi fundada a capela. Casou se ele em Itu, onde residiu e de onde creio era natural, em 1.721, com Inês Dias de Alvarenga, filha de João Gomes de Escobar e de Joana de Godói Bicudo. Ora, se até a data do casamento residia em Itu, somente depois de 1.724 e que se transferiu para as terras da capela de Araritaguaba, onde se abriu lavouras e alcançou a sesmaria.

Como se vê, Aranha Sardinha não foi co fundador da capela de Nossa Senhora da Penha de Araritaguaba, como contam as crônicas, mas sim um dos primeiros povoadores das terras dessa capela.

(*) F. Nardy Filho

"Acervo Museu Republicano de Itu/Museu Paulista-USP - Reprodução de 1995"




De Nossa Senhora da Penha para Nossa Senhora Mãe dos Homens


A razão da mudança do nome de Araritaguaba para Porto Feliz, nos conta o Governador Castro e Mendonça em sua comunicação ao Secretário de Estado, Dom Rodrigo de Souza Coutinho. Vejamos agora a motivo da mudança da invocação de sua padroeira, de N. Senhora da Penha para Nossa Senhora Mãe dos Homens. Velhos portofelicenses, procurando explicar o motivo dessa mudança, contaram o seguinte, que ainda é corrente em Porto Feliz: a imagem de Nossa Senhora Mãe dos Homens foi mandada vir para servir de padroeira à povoação de Cuiabá, e que chegada a Araritaguaba, permaneceu por algum tempo aí à espera da monção, e que, chegada esta, ao tentarem erguer a imagem da Senhora Mãe dos Homens para levarem-na ao batelão que devia conduzi-la a Cuiabá, se tornou tão pesada que não foi possível levantá-la da sala, por mais esforços empregados; viram os presentes nesse fato o desejo manifesto de N. Senhora de que essa imagem ficasse em Araritaguaba e servisse de padroeira dessa povoação.

Até aí a lenda. Vejamos agora o que nos diz a história. Em primeiro lugar, devemos declarar que a padroeira de Cuiabá sempre foi o Senhor Bom Jesus e não N. Senhora Mãe dos Homens. Percorrendo a relação dos padroeiros das primitivas povoações de Mato Grosso não encontramos povoação alguma que tivesse como padroeira N. Senhora Mãe dos Homens.

Segundo consta do Livro I do Tombo da paróquia de Porto Feliz, essa "imagem majestosa e perfeita" foi mandada vir especialmente para ser colocada em "hua sumptuosa Igreja" que as moradores de Araritaguaba "a sua custa e com esmolas dos fiéis" estavam construindo em louvor a N. Senhora Mãe dos Homens.

Pela exposto vemos que, sendo pequena e talvez estando em ruínas à primitiva capela de N. Senhora da Penha, e tendo sido construída uma grande igreja em louvor a N. Senhora Mãe dos Homens, passou esta igreja a servir de matriz, passando então o seu orago a ser a padroeira da paróquia.

Toda lenda tem a sua origem em um fato qualquer que lhe de motivo; assim cremos que a lenda referente à imagem de N. Senhora Mãe dos Homens teve a sua origem no fato que passamos a relatar.

Segundo nos conta Joaquim da Costa Siqueira em sua "Chronicas de Cuyabá", a 8 de janeiro de 1.776 chegava a Cuiabá, onde ia exercer o cargo de juiz de Fora, o Dr. José Carlos Pereira, o qual, além de ser uma autoridade diligente e austera, era muito piedoso.

Em 1.779, em uma diligência que fez à missão de Santana (de Parnaíba), teve ocasião de ver "a palhoça, na verdade indecentíssima, em que se celebrava a santa sacristia do altar e mais divinos oficios e a mais é que servia de matriz, por ser a dita missão freguesia separada". Devoto fervoroso que era da Senhora Santana, concebeu logo o projeto de edificar ali uma igreja, que servisse de matriz àquela missão, o que, vencendo mil obstáculos, levou a efeito.

Concluída a igreja encomendou ele no Rio de Janeiro uma linda imagem da Senhora Santana "com cinco palmos de altura, com o menino ao lado esquerdo e na mão direita uma custódia de prata doirada para nela se expor o Santíssimo Sacramento".

Deixa o Dr. José Carlos Pereira o seu cargo de Juiz de Fora e, em novembro de 1.781, parte de Cuiabá sem que, até essa data, houvesse ali chegado a imagem da Senhora Santana que encomendara. "Chegado que foi o nosso devoto fundador, Dr. José Carlos Pereira, à freguesia de Araritaguaba, da comarca de São Paulo (assim nos conta o cronista), onde fazem desembarque os que vão destas minas pelos rios para os povoados, e achando aí a nova imagem de Santa Anna do Sacramento, aquela que havia mandado vir do Rio de Janeiro para se colocar na sua freguesia, não lhe sofreu o ânimo passar adiante sem ver a imagem e fazer-lhe uma festa solene. Assim o executou e no primeiro domingo que se seguiu, posto a Santa no trono do altar-mor da igreja matriz de Araritaguaba, com o Santíssimo Sacramento exposto na custódia, que havia mandado também vir, que tinha a Santa na mão direita, se lhe cantou missa solene, com sermão que pregou o reverendo Francisco Pinto Guedes, natural destas minas e vigário encomendado daquela freguesia."

Não estará neste fato, contado pelo cronista cuiabano, a origem da lenda da imagem de N. Senhora Mãe dos Homens, contada pelos antigos portofelicenses, visto como a imagem da Senhora Santana ficara para o seu destino? Não teria havido confusão nestas duas imagens, visto como há muitas que vêm grande semelhança entre a imagem de N. Senhora
Mãe dos Homens, que se venera na igreja matriz de Porto Feliz e a da Senhora Santana da igreja matriz de Parnaíba?

Foi, portanto, segundo cremos e salvo melhor documentação em contrário, a edificação de uma grande igreja dedicada a Nossa Senhora Mãe dos Homens que deu origem à mudança da padroeira de Araritaguaba, de Nossa Senhora da Penha para Nossa Senhora Mãe dos Homens.
(*) O ESTADO DE S. PAULO, 2 de novembro de 1945, pp. 5-6 (licença da USP-SP, 1995)







Porto Feliz, sua economia em 1790


Em 1.797 a antiga freguezia de Nossa Senhora Mãe dos Homens de Araritaguaba foi elevada à vila, passando então a chamar-se Pôrto Feliz. Fazendo divisa com Itu, suas terras eram férteis e excelentes para o cultivo da cana.

O levantamento de 1.798 acusa uma população de 3.337 habitantes divididos, em 3 Companhias de 515 fogos (casas). A escravaria era numerosa constituindo 1/3 da população: 1241 cativos. Dêstes, 1.040 trabalhavam na lavoura de cana, computando-se a escravaria dos engenhos e dos partidos.

A produção dêsse ano foi grande: 27.665 arrôbas, superior de muito à de Campinas e só ultrapassada por Itu. Nota-se em Porto Feliz grande número de partidos: 43 ao todo, mas, a sua produção sempre foi diminuta comparada à dos engenhos. Os 43 partidistas produziram 4.473 arrôbas de açúcar, o que daria em média 104 arrôbas para cada um. A maior produção não foi além de 2.001 arrôbas. A escravaria também era diminuta. Havia mesmo aqueles que lavravam a terra sem o auxílio de escravos como Gonçalo Nunes Siqueira, solteiro, que produziu 75 arrôbas somente com agregados.

O censo de 1.798 faz uma distinção curiosa entre os agricultores de cana. Além dos senhores de engenho e do "partidistas", relaciona lavradores que faziam quartéis de cana, vendidos anualmente a um engenho.

Porto Feliz possuía então 51 engenhos movimentado por 806 escravos. Algumas fábricas tinham boa produção, na 1a. Cia., do capitão-môr Francisco Correa de Moraes Leite, 7 engenhos produziram além de 1.000 arrôbas. De modo geral, entretanto, a produção por engenho ainda não era apreciável, regulando em média aproximadamente, 450 arrôbas.

A população do lugar aumentava rapidamente. Em 1.801 havia 5.205 habitantes. Crescera também o número de escravos: de 1.241 cativos que havia em 1.798, passou a vila a contar com 1.985. Encontramos 62 engenhos, além de 4 em Piracicaba, sujeita então a Porto Feliz. Enquanto crescia o número de engenhos, o de partidos diminuía de 40 para 30 e a produção total da área chegou a 32.871 arrôbas. Ainda nessa época, a cidade estava à frente de Campinas na produção açucareira.

A grande maioria dos fabricantes era proveniente da própria região e adjacências: dos 62 engenhos arrolados, 31 eram de agricultores da própria vila de Porto Feliz e 15 de Itu. Os restantes eram de gente de Cuiabá, Santos, Goiás, Parnaíba e Sorocaba.

Algumas fábricas funcionavam em sociedade. Vicente da Silva Bueno, natural de Goiás, comprou uma fábrica em sociedade com Manuel de Sampaio que a administrava. Cada um tinha seus próprios escravos, além daqueles que pertenciam à sociedade e que eram em número de vinte e dois. Olavo José da Silva ganhava 100$000 anualmente para administrar o engenho de Francisco Barbosa. A produção de açúcar demandava zêlo: João de Oliveira Freire de Andrade tinha seu engenho desbaratado por andar ausente.

Há um momento em que Porto Feliz, embora continuamente próspera, tem a sua produção alcançada e superada por Campinas. No ano de 1.815, esta última já produzia 72.000 arrôbas de açúcar, enquanto a antiga Araritaguaba acusava 32.424. Havia 66 engenhos e mais 15 em Piracicaba, além de 18 partidistas. Em 10 anos, o número de escravos aumentara apreciavelmente de 1.985 para 2.752; destes, 1.630 (sem incluir Piracicaba) eram empregados na lavoura de cana.

A cultura canavieira era o denominador comum da região: em 372 agricultores, 84 dedicavam-se à cana de açúcar. Porto Feliz apresentava grandes perspectivas e atraía gente pois o censo de 1.815 relaciona muitos moradores novos e outros "armando-se para fazer assucar para o anno que vem", como José de Arruda Leite, que viera de Sorocaba.

Ao findar o período colonial, a antiga freguezia de Araritaguaba, juntamente com Itu e Campinas, movia os cordéis da produção açucareira na Capitania. Em 1.822 a sua produção era de 98.253 arrôbas, emparelhando com Itu e somente ultrapassada por Campinas. Era zona da mais povoadas, com escravaria apenas ligeiramente inferior à de Campinas e Itu.

Tinha então 7.576 moradores, dos quais 3.227 eram escravos. Sua lavoura canavieira como a das demais áreas citadas era quase totalmente de exportação, escoando-se através de Santos. Abrangia 86 engenhos trabalhados por 1.937 escravos. Nessa época, a freguezia de S. S. Trindade de Pirapora, pertencente à vila, tinha 19 engenhos com 521 cativos que produziam 20.576 arrôbas de açúcar.

Aparecem no censo de 1.822 alguns "negociantes de negros novos" como Simão de Souza e José Manuel de Arruda, que, além disso, também eram senhores de engenho.

O rendimento médio por fábrica também crescera: aproximadamente 870 arrôbas. Já então havia um número razoável de "engenheiros" que tinham produção significativa: 38 senhores produziam mais de 1.000 arrôbas e um deles nada menos que 2.700. Contudo, Campinas detinha a primazia no tocante às grandes produções individuais.

É lícito afirmar que na época da emancipação (1.797), Porto Feliz estava no vigor de sua expansão canavieira, pois algumas décadas mais tarde, a região decaíra, tendo apenas 38 engenhos que produziam 46.310 arrôbas.

Contudo, na época que nos interessa era, juntamente com Itu e Campinas, a zona por excelência do cultivo da cana, fornecendo a base econômica da Capitania de São Paulo.
(*) Algumas notas sobre a lavoura do açúcar em São Paulo no período colonial.
Suely Robles Reis de Queiros Anais do Museu Paulista Tomo XXI págs. 254, 255, 256 e 257

















Porto Feliz 1790/1830 primeira economia: cana-de-açúcar


...Outra localidade nas terras do planalto, consideravelmente açucareira foi Pôrto Feliz, situada perto de Itu e constituindo uma das vias de acesso a Cuiabá. A antiga povoação de Araritaguaba , segundo Pizarro, tinha terras "assás aptas e as melhores para a produção da cana doce, produzem grande quantidade de açúcar e aguardente" . Também é mencionada por Aires do Casal como cultivadora da cana de açúcar e Saint-Hilaire refere-se aos habitantes da povoação como orgulhos de suas terras, as quais, afirmavam eles, serem melhores que as de Itu.

Realmente, essa localidade, situada à margem esquerda do Tietê e muito procurada para os embarques rumo à Cuiabá, encontrou no açúcar, desde logo, o catalizador de sua agricultura. Mesmo enquanto freguezia, já produzia açúcar. No ano de 1.776, contava 266 fogos, com 2.788 habitantes, sendo 807 escravos, aproximadamente 1/4 da população. A maioria desta era constituída de lavradores, todavia, muitas pessoas viviam de fazer canoas e outras se alugavam para as viagens a Cuiabá; contudo, também havia cultivadores de cana para produção de aguardente, como o alferes Antônio Soares da Costa que fabricava aguardente e tinha 32 escravos.

A escravatura continuava aumentando sempre, índice seguro do crescente progresso da lavoura açucareira, uma vez que eram os agricultores de canas aqueles que possuíam maior número de escravos. Em 1.792, a vila de Itu tinha 3.262 escravos, dos quais, 856 pertenciam a Porto Feliz.

O ano de 1.797 marca a elevação de Araritaguaba a vila. O governador Mello Castro e Mendonça atendendo à petição dos moradores, justifica-a, argumentando ter a povoação" toda a capacidade e disposição para vir a ser em poucos anos, uma das vilas opulentas desta Capitania". Em 1.798, dos 425 agricultores cadastrados, 101 dedicavam-se à cultura da cana, um têrço, portanto, dos lavradores. No ano em questão, a produção de açúcar foi de 26.740 arrôbas.

A população crescia sempre. Em 1.805 já havia 1.985 escravos e em 1.815 os cativos eram em número de 2.752 para um total de 8.361 habitantes. Produziam-se 32.144 arrôbas de açúcar. Essa produção não chegava a alcançar a de Itu, mas era apreciável no quadro agrícola da Capitania. Em 1.822, o fabrico havia aumentado grandemente para 98.632 arrôbas, das quais, 97.432 foram exportadas.

A localidade se integrava, com destaque no movimento exportador paulista.
(*) Algumas notas sobre a lavoura do Açúcar em São Paulo no período colonial. Suely Robles Reis de Queiroz - pág. 143/144



Porto Feliz 1819


"É muito menos extensa do que Itu e não tão bem construída: sua localização, porém, é infinitamente mais aprazível. Efetivamente, estende-se por uma colina, a cujo sopé corre o Tiete. De vários pontos vê-se este rio, que serpenteia por um profundo vale, estando situadas em margens várias fazendas; mas ao longe vêm-se extensas terras cobertas de matas e de pastagens. A colina sobre a qual a cidade foi construída eleva-se quase a pique acima do Tietê; contudo, em espaço considerável, estende-se muito suave, até a margem do rio; nesse ponto, denominado porto, efetua-se os embarques pela via fluvial. O terreno em que foi edificada Porto Feliz é muito acidentado. As ruas da cidade não são calçadas, nem mesmo foram niveladas. As casas, baixas, pequenas, afastadas umas das outras, só tem, em geral, o rés do chão; ao passo que as de Itu são, em sua maioria, construídas de taipa, em Porto Feliz são todas construídas com ripas cruzadas ( pau a pique ) e terra tapando os interstícios, e isso porque na cidade e seus arredores não é encontrada a argila própria para fazer a taipa. Há em Porto Feliz apenas um edifício religioso, que é a igreja paroquial, sendo a única construção feita como as casas de Itu. Na época de minha viagem, essa igreja, consagrada a Nossa Senhora Mãe dos Homens, não estava ainda inteiramente terminada. Mede cerca de 58 passos de comprimentos, a contar da capela-mor até a porta de entrada; tem duas torres, que servem de campanário, construídas, segundo o costume do país, dos dois lados da porta central de entrada.

O Tietê atualmente, só contribui para embelezamento de Porto Feliz; mas, com o correr dos tempos, dará a esta cidade a mais alta importância. Com efeito, além do Salto de Itu, torna-se ele navegável um pouco abaixo da mesma, e em Porto Feliz terão início as gigantescas navegações, a que já me referi noutro lugar, e que ferem de espanto a imaginação dos europeus, acostumados a seus rios mesquinhos...

Já a maior parte das casas de Porto Feliz pertence a agricultores, e nessa localidade só vi um pequeno número de lojas e vendas. Constitui a riqueza da região a cultura da cana-de-açúcar. Os habitantes de Porto Feliz dizem ser suas terras, que tem cor vermelha, muito mais adequada a cultura da cana do que as terras de Itu; acrescentam que com o auxílio de dez escravos podem produzir mil arrobas de açúcar e mais até; enfim, que não é necessário, depois de arrancada à cana, deixar repousar o terreno por mais de dois a quatro anos. Mas, de outra parte, Porto Feliz está mais longe de Santos do que Itu, gastando-se mais de oito dias para a viagem a Santos; na época de minha passagem por ali, época em que o milho era raro e extremamente caro, os arrieiros exigiam, para o transporte de uma arroba (14, 7 quilos) uma pataca e meia (3 francos.), importância que, convém não esquecer, tinha valor muito mais elevado do que atualmente.

(*) Auguste de Saint-Hilaire - Viagem A Província de São Paulo (São Paulo, Livraria Martins Editora - Editora da Universidade de São Paulo, 1.972).









As Monções

Após a Guerra dos Emboabas, os paulistas, impossibilitados de explorar o ouro de Minas Gerais, passaram a buscar novas zonas de mineração, descobrindo-as nos atuais Estados de Mato Grosso e Goiás.
Em 1719, a bandeira de Pascoal Moreira Cabral, subindo o rio Cuiabá à caça de índios, encontrou ouro nas margens do rio Coxipó-Mirim e, em 1725, a bandeira de Bartolomeu Bueno da Silva descobriu ouro em Goiás. A descoberta de ouro na região marcou o início das monções, expedições fluviais regulares que faziam a comunicação entre São Paulo e Cuiabá.
A palavra monção era usada pelos portugueses para denominar os ventos periódicos que ocorriam na costa da Ásia Meridional. Esses ventos, que durante seis meses sopram do continente para o Oceano Índico e nos seis meses seguintes em sentido contrário, determinavam a saída das expedições marítimas de Lisboa para o Oriente.
Na Colônia(Brasil), as expedições que utilizavam as vias fluviais foram chamadas de monções, não por causa dos ventos, mas por se submeterem ao regime dos rios, partindo sempre na época das cheias (março e abril), quando os rios eram facilmente navegáveis, tornando a viagem menos difícil e arriscada.
As monções partiam das atuais cidades de Porto Feliz e Itu, às margens do rio Tietê, levando em média cinco meses até alcançar as minas de Cuiabá.
No início as monções transportavam paulistas para as minas cuiabanas, mas logo tornaram-se expedições de abastecimento, isto é, bandeiras de comércio, levando mercadorias para as zonas mineradoras. A população das minas necessitava adquirir tudo que precisava, pois só estava interessada em achar ouro e enriquecer rapidamente.
A viagem era difícil devido às inúmeras corredeiras, febres, insetos venenosos, piranhas e, principalmente, ataques de índios. As canoas eram construídas à maneira indígena, cavadas em um só tronco e muito rasas. As maiores chegavam a transportar até 300 arrobas de carga, e com o tempo receberam toldos para evitar que as provisões se estragassem. A tripulação era formada pelo piloto, pelo proeiro e por cinco ou seis remadores que remavam em pé como os índios. A carga ficava no centro da canoa, os tripulantes na proa e os passageiros na pôpa. Navegavam entre 8 horas da manhã e 5 da tarde, quando embicavam as canoas nos barrancos dos rios, armando acampamentos. Alimentavam-se de feijão, farinha de mandioca ou de milho e recorriam à pesca, aos palmitos, frutos e caça.
Com o tempo, por medida de segurança, as viagens passaram a ser feitas em grandes comboios. O número de canoas e pessoas num comboio variava , mas sabe-se que um dos maiores, o do governador de São Paulo, D. Rodrigo César de Menezes, partiu de Porto Feliz com mais de 300 canoas e cerca de 3.000 pessoas.














quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

Bandeirantes

Bandeirantes
Denominam-se bandeirantes os sertanistas que, a partir do século XVI, penetraram nos sertões brasileiros em busca de riquezas minerais, sobretudo a prata, abundante na América espanhola, indígenas para escravização ou extermínio de quilombos.
Ver artigo principal: Entradas e bandeiras

Tradicionalmente, os historiadores distinguem as entradas, como movimentos promovidos pelo Governo, das bandeiras, como expedições particulares, com fins lucrativos.Índice [esconder]


História

Segundo um Bando Real de 1570, a Lei das Ordenanças, nas zonas rurais, em vez da Companhia de Ordenanças, se organizava uma Bandeira: tinha formação similar à de uma companhia sendo seus componentes divididos em esquadras, reunindo-se os que estavam até a uma légua da sede do capitão-mor. Esta a origem das bandeiras que, com um capitão e seus cabos, exploraram e devassaram o território brasileiro (era uma forma de proteção contra os ataques indígenas que já haviam destruído uma expedição de Martim Afonso em Cananéia e de Solis no Mar do prata).

Povoado de relevo foi o de São Paulo, e o surto das bandeiras teve origem na obra dos jesuítas com suas expedições de resgate ou tropas de resgate para libertar prisioneiros de uma tribo que, atados a cordas ou encerrados em currais, destinavam-se à morte (Os jesuítas eram espanhóis organizando 12 vilas no séc XVI ao sul do rio Paranapanema. Estes padres foram advertidos por Antonio Raposo Tavares para deixarem o país. No século seguinte, todos os padres jesuítas foram expulsos das colônias portuguesas por sugestão do Marquês de Pombal).

No início da colonização, os interesses de Portugal se concentravam no litoral ou próximo dele. O extrativismo do pau-brasil, mesmo o plantio da cana-de-açúcar não se expandiram pelo interior. O fator orográfico, com certeza, foi um dos que mais desmotivaram a penetração dos colonizadores: a Serra do Mar, que mais parece uma grande muralha, recoberta por densas matas, dificultava a penetração. Em 1585, Fernão Cardim, tendo acompanhado o padre jesuíta Cristóvão de Gouveia de São Vicente a São Paulo, relatou: "O caminho é cheio de tijucos, o pior que nunca vi e sempre íamos subindo e descendo serras altíssimas e passando rios e caudais de águas frigidíssimas". Os rios serviam somente como pontos de referência, oferecendo poucas condições à navegação, com quedas d'água, corredeiras e formações rochosas. Esse foi outro fator que atrasou a penetração do branco no território brasileiro.










A vocação paulista
Domingos Jorge Velho, um bandeirante paulista.

Houve umas poucas expedições ao atual território de Minas Gerais, nos séculos XVI e XVII. Tais entradas foram mal registradas e sobram poucas informações sobre os caminhos e os acontecimentos das viagens dos desbravadores. Sertanistas corajosos, eram despreparados, não deram importância ao registro e à documentação das viagens. Uma bandeira vagueava anos por matas e sertões, sem uma só pessoa com conhecimento de astronomia e geografia para guiá-la (ainda não existiam instrumentos de orientação e todos procuravam o limite do Brasil que era o rio Paraná, estabelecido por Pero Lopes de Souza em 1531). Até mesmo a interpretação errôneas da língua de uma tribo indígena fazia com que uma expedição alterasse o percurso, em incursões infrutíferas (os índios não eram amigos, pelo contrário eram selvagens, que o diga Unhate, o escrivão de São Vicente que teve um braço amputado). A própria inexistência de uma pessoa responsável pelo diário e pelas anotações das bandeiras comprometia o correto registro (como Tordesilhas mudou 10° para o oeste após o Tratado de Saragoça, todos sabiam que tinham que caminhar dez graus de sol a mais para oeste, esta era a única referência lógica). Nem mesmo historiadores conseguiram definir, com exatidão, os caminhos usados. J. Capistrano de Abreu, comentando a descrição de Gabriel Soares de Sousa sobre a viagem de Sebastião Fernandes Tourinho, diz: «No meio destas indicações e contra indicações, fielmente resumidas por Gabriel Soares, é impossível uma pessoa entender-se. »~

Antes de surgirem aldeamentos na bacia do rio da Prata, os paulistas já percorriam o sertão, buscando na preação do indígena escravizando-o para vendê-lo, o meio para sua subsistência (a grande captura de indígenas guaranis ocorreu em 1632 quando os Bandeirantes voltaram ao Paranapanema e levaram cativos para São Paulo os remanescentes dos indígenas na Vila do Espírito Santo. Nesta ocasião a maioria de guaranis já haviam sido enviadas para as Missões ao sul. A Capitania de Paranaguá, pertencente a Pero Lopes de Souza se estendia do Paranapanema ao Rio da Prata. Em 1610 findou o sistema de capitanias e Paranaguá foi unida a São Vicente e Santo Amaro para formar a Província de São Paulo). As tribos vitoriosas nas guerras ofereciam-lhes os prisioneiros em troca de armamentos. Essa "vocação interiorana" era alimentada por condições geográficas, econômicas e sociais. São Paulo, separada do litoral pela muralha da serra do Mar, voltava-se para o sertão, cuja penetração era facilitada pela presença do rio Tietê e de seus afluentes, que comunicavam os paulistas com o interior. Além disso, apesar de afastada dos principais centros mercantis, sua população crescera muito porque boa parte dos habitantes de São Vicente havia migrado para lá quando os canaviais plantados no litoral por Martim Afonso de Sousa entraram em decadência, na segunda metade do século XVI, arruinando fazendeiros.

As conseqüências

Os mais famosos bandeirantes nasceram no que é hoje o estado de São Paulo. Foram os responsáveis pela conquista do interior e extensão dos limites de fronteira do Brasil para além do limite do Tratado de Tordesilhas, acordo firmado entre Portugal e Espanha com a intenção de dividir a posse das terras do Novo Mundo. (Esta informação não está correta. Quando os Bandeirantes surgiram em redor de 1600, a fronteira brasileira já havia sido estabelecida por Pero Lopes de Souza em 1531. O descobrimento das Filipinas pelos espanhóis estava em território português e a Espanha não quis perder esta rica fonte de especiarias e forçou Portugal a mover o Meridiano de Tordesilhas em mais 17° para o Oeste, para que os seus limites não terminassem no imenso Pacífico, vejam: Tratado de Saragoça. Portugal enviou os dois irmãos Souza para a nova demarcação. Martim naufragou na entrada do Rio da Prata e Pero só conseguiu navegar dez graus no rio Paraná. A Espanha nunca reclamou desta demarcação, senão os inconformados argentinos que causaram váras invasões).

No entanto, os resultados destas expedições foram desastrosos para os povos autóctones, ora reduzidos à servidão, deslocados e descaracterizados na sua identidade cultural, ora dizimados, não tanto pela violência dos colonos como pelo contágio de doenças para as quais os seus organismos estavam desprovidos de defesas.

As reduções organizadas pelos jesuítas no interior do continente foram, para os paulistas, a solução para seus problemas: reuniam milhares de índios adestrados na agricultura e nos trabalhos manuais, mais valiosos que os ferozes tapuias, de "língua travada" (as Reduções eram espanholas dos "Adelantados" e não eram portugueses). No século XVII, o controle holandês sobre os mercados africanos, no período da ocupação do Nordeste pelos holandeses, interrompeu o tráfico negreiro (Os holandeses ocuparam as colônias portuguesas na África, exatamente para trazerem mais escravos para o Brasil). Os colonos voltaram-se para a escravização do índio para os trabalhos antes realizados pelos africanos (o Nordeste estava ocupado pelos holandeses e somente após Nassau negociar com os produtores foi possível o retorno agrícola). Com a procura houve elevação nos preços do escravo índio, chamado o "negro da terra", que custava cinco vezes menos do que os africanos. (O preço equivalente de um escravo na África até 1850 era de um saco de café e era vendido no Brasil por 40 sacos de café). Os paulistas não teriam atacado as missões durante dezenas de anos seguidos se não contassem com o apoio (ostensivo ou velado) das autoridades. Embora não se saiba bem quais as expedições promovidas pela Coroa e quais as de iniciativa particular, sendo também imprecisa a designação de entradas e bandeiras, o traço comum a todas foi a presença, direta ou indireta, do poder público (explicado com Raposo Tavares).

A ação dos bandeirantes foi da maior importância na exploração do interior brasileiro, bem como na manutenção da economia da colônia, fosse pelas suas consequências para o comércio, fosse porque a captura de indígenas fornecia mão-de-obra para a agricultura, principalmente cana-de-açúcar. Para além disso, não pode deles ser dissociada a descoberta de metais preciosos em vários pontos, metais esses que marcaram o papel do Brasil no conjunto do Império Colonial Português ao longo do século XVIII.

Comenta o livro «Ensaios Paulistas» abaixo citado, página 635: «A agressão dos portugueses de San Pablo» às reduções jesuíticas do sul do Brasil nos atuais Paraná e Rio Grande do Sul, assaltos de que haviam os jesuítas feito grande alarde na Europa, trouxeram aos paulistas a fama de que eram os mais insubmissos vassalos dos reis de Portugal, como demonstram os relatos seiscentistas dos capuchinhos italianos frei Miguel Angelo de Gattina e frei Dionísio de Carli, em 1667, e do engenheiro francês Froger em 1697. Montoya, na primeira metade do século XVII, proclamava que toda aquela «vila de San Pablo, era gente desalmada y alevantada que no hace caso de las leyes del Reyno ni de Dios.» E prossegue: «Se acaso se viam perseguidos, desamparavam casas e herdades e lá se iam para o sertão com suas mulheres, filhos e escravos, por desertos e montes em busca de novas terras.» («Dejar la villa tampoco se les da nada por que fuera de las principales fiestas muy pocos, o hombres y mujeres, estan en ella si no siempre en sus heredades o por los bosques y campos, en busca de indios en que gastan su vida.») Irresistível impulsão lançava os paulistas à selva. Toda sua vida, «desde que salen de la escuela hasta su vejez no es sino yr e venir y traer y vender indios. Y en tola la villa de San Pablo no habrá mas de uno o dos que no vayan a cautivar yndios o enbien sus hijos o otros de su casa con tanta libertad como si fuera minas de oro o plata». Pode-se ver o inconformismo e o ódio dos governadores espanhóis na Argentina, eles queriam todo o território brasileiro, sem considerar os acordos lavrados pelas Bulas dos Papas que decretavam a excomunhão aos reis e vassalos que não respeitassem aos Tratados. O êrro de Pero Lopes de Souza foi de não ter cumprido 100% da sua missão que era a de mover o Meridiano de Tordesilhas em 17° para o Oeste, mas ele só conseguiu ir até 10° onde assentou dois marcos de pedra gravados com a Ordem Militar de Cristo a 33° 45' Sul.

Os tipos de bandeiras

Houve três tipos de bandeiras: as de tipo apresador, para a captura de índios (chamado indistintamente o gentio) para vender como escravos; as de tipo prospector, voltadas para a busca de pedras ou metais preciosos e as de sertanismo de contrato, para combater índios e negros (quilombos).

De início, eram aprisionados os índios sem contato com o homem branco. Posteriormente, passaram a aprisionar os índios catequizados, reunidos nas missões jesuíticas. Grandes bandeirantes apresadores foram Manuel Preto e Antônio Raposo Tavares, que forneciam índios às fazendas do Brasil que necessitavam de mão de obra escrava e não contavam com suficiente quantidade de escravos negros.

A palavra paulista aliás segundo comenta o livro «Ensaios Paulistas», Editora Anhembi, São Paulo, 1958, página 636, se deve ao visconde de Barbacena: «Quer-nos parecer que a este governador-geral se deve o mais longínquo emprego até hoje divulgado do adjetivo paulista, ocorrente numa ordem expedida em 27 de julho de 1671. O gentílico deve ter-se generalizado rapidamente. Na documentação municipal de São Paulo aparece pela primeira vez em ata de 27 de janeiro de 1695.»

Sertanista é palavra que aparece em 31 de dezembro de 1678. Bandeira aparece a 20 de fevereiro de 1677 quando o sucessor de Barbacena narra que «os índios do vale do rio São Francisco haviam degolado várias bandeiras de paulistas. Uma consulta do Conselho Ultramarino de 1676, relativa a Sebastião Pais de Barros, ao se referir a sua expedição, fala da «sua bandeira, como eles (os paulistas) lhe chamavam.» Já da palavra bandeirante o mais longínquo emprego que se conhece é muito mais recente. Verifica-se num documento assinado pelo capitão-general conde de Alva em 1740. Impressa, parece ter sido pela primeira vez em 1817, por Aires do Casal.»

As bandeiras iniciais

Muitas vezes o governo financiava a expedição; outras vezes, limitava-se a fechar os olhos para a escravização dos índios (ilegal desde 1595), aceitando o pretexto da "guerra justa". D. Francisco de Sousa patrocinou as bandeiras de André de Leão (1601) e Nicolau Barreto (1602) que, esta, se estendeu por dois anos. Teria chegado à região do Guairá, regressando com um número considerável de índios, que algumas fontes estimam em três mil. Em agosto de 1628, quase todos os homens adultos da Vila de São Paulo estão armados para investir contra o sertão. Eram novecentos brancos e três mil índios, formando a maior bandeira até organizada, com destino ao Guaíra, para expulsar os jesuítas espanhóis e prender quantos índios pudessem, e vendê-los Bahia, carente de braços.

Bandeirismo de Preação (de captura, aprisionamento)

A partir de 1619, os bandeirantes intensificaram os ataques contra as reduções jesuíticas, e os artesãos e agricultores guaranis foram escravizados em massa. No entanto, muito antes de surgirem os primeiros aldeamentos na bacia do Prata, os paulistas já percorriam o sertão, buscando na preação do indígena o meio para sua subsistência. Essa "vocação interiorana" era alimentada por uma série de condições geográficas, econômicas e sociais. Separada do litoral pela muralha da Serra do Mar, São Paulo voltava-se para o sertão, cuja penetração era facilitada pela presença do rio Tietê e de seus afluentes que comunicavam os paulistas com o distante interior. Além disso, apesar de afastada dos principais centros mercantis, sua população crescera muito. É que boa parte dos habitantes de São Vicente haviam migrado para lá quando os canaviais plantados no litoral por Martim Afonso de Sousa entraram em decadência, já na segunda metade do século XVI, arruinando muitos fazendeiros. Ligados a uma cultura de subsistência baseada no trabalho escravo dos índios, os paulistas começaram suas expedições de apresamento (ou preação) em 1562, quando João Ramalho atacou as tribos do vale do rio Paraíba. O bandeirismo de preação tornou-se uma atividade altamente rendosa. Para os paulistas, atacar as reduções jesuíticas era a via mais fácil para o enriquecimento.

Diante dos ataques, os jesuítas começaram a recuar para o interior e exigiram armas ao governo espanhol. A resposta foi nova ofensiva, dessa vez desencadeada pelas autoridades de Assunção (Paraguai), que possuíam laços econômicos com os colonos do Brasil. Mesmo após o término da União Ibérica, em 1640, quando os guaranis finalmente receberam armas dos espanhóis os paulistas foram apoiados pelo bispo D. Bernardino de Cárdenas, inimigo dos jesuítas e governador do Paraguai. Os reinos ibéricos podiam lutar entre si na Europa; no entanto, as "repúblicas" comunitárias guaranis eram o inimigo comum de todos aqueles que estivessem interessados na exploração sem limites das terras americanas.

Cronologia do Bandeirismo de Preação

•1557 - Os espanhóis edificam Ciudad Real, próximo à foz do Piquiri, no Paraná.

•1562 - João Ramalho ataca as tribos do rio Paraíba, enquanto os jesuítas ajudam a dissolver a Confederação dos Tamoios.

•1576 - Os espanhóis fundam Vila Rica, na margem esquerda do rio Ivaí.

•1579 - Jerônimo Leitão ataca as aldeias das margens do Anhembi (Tietê).

•1594-1599 - Afonso Sardinha e João do Prado investem contra as tribos do Jeticaí.

•1595 - Uma carta régia proíbe a escravização dos indígenas.

•1597 - Martim Correia de Sá parte do Rio de Janeiro e chega ao rio Sapucaí ou Verde •1602 - Nicolau Barreto percorre os sertões do Paraná, Paraguai e Bolívia, atingindo as nascentes do rio Pilcomayu.

•1606 - Manuel Preto segue rumo ao sul, à frente de uma bandeira.

•1607 - Outra expedição, dessa vez chefiada por Belchior Dias Carneiro, dirige-se para o sul do Brasil.

•1610 - Jesuítas castelhanos fundam os povoados de Santo Inácio e Loreto, na margem esquerda do Paranapanema.

•1619 - Manuel Preto ataca aldeias de Jesus, Maria e Santo Inácio (província do Guairá)

•1620 - Os jesuítas iniciam o povoamento do atual Rio Grande do Sul, com duas administrações: a província do Tape, com seis "povos", e a do Uruguai, com dez reduções.

•1623-1630 - Onze aldeias compõem a província do Guairá, limitada pelos rios Paranapanema, Itararé, Iguaçu e Paraná (margem esquerda).

•1626 - Surge a província do Paraná, com sete reduções, entre os rios Paraná e Uruguai.

•16Z8 - Manuel Preto e Antônio Raposo Tavares destroem as reduções do Guairá, em várias campanhas que terminam em 1633.

•1631 - Os jesuítas criam a província do Itatim a sudeste do atual Mato Grosso.

•1633 - Antonio Raposo Tavares inicia a invasão do atual Rio Grande do Sul.

•1639 - A Espanha concede permissão para que os índios se armem.

•1640 - Os jesuítas são expulsos de São Paulo.

•1648 - Uma expedição chefiada por Raposo Tavares percorre as regiões de Mato Grosso, Bolívia, Peru (chegando ao Pacífico) e Amazônia, retomando a São Paulo em 1652.

•1661 - Fernão Dias Pais atravessa os sertões do sul até a serra de Apucarana.

•1670 - Bartolomeu Bueno de Siqueira atinge Goiás.

•1671-1674 - Estêvão Ribeiro Baião Parente e Brás Rodrigues de Arzão cruzam o sertão nordestino.

•1671 - Domingos Jorge Velho chefia uma expedição ao Piauí.

•1673 - Manuel Dias da Silva, o "Bixira", atinge Santa Fé, nas missões paraguaias.

• Manuel de Campos Bicudo percorre terras entre as bacias platina e amazônica. Em Goiás, encontra-se com Bartolomeu Bueno da Silva.

•1675 - Francisco Pedroso Xavier destrói Vila Rica del Espíritu Santo (a sessenta léguas de Assunção).

•1689 - Manuel Álvares de Moraes Navarro combate tribos do São Francisco e chega ao Ceará e ao Rio Grande do Norte. - Convocado pelo governo-geral, Matias Cardoso de Almeida enfrenta os "índios bravos" do Ceará e do Rio Grande do Norte em sucessivas campanhas que terminam em 1694.

A década de 1660

O número de entradas notáveis de origem paulistana cresceu considerávelmente depois de 1660. Diz «Ensaios Paulistas», editora Anhambi, São Paulo, 1958, página 635: «Citam-se das de Fernão Dias Pais na Apucarana, a de Luís Pedroso de Barros, morto em pleno Peru, a de Lourenço Castanho Taques ao sertão dos Cataguazes, território de Minas Gerais, as de Sebastião Pais de Barros e Pascoal Pais de Araújo no alto Tocantins. O extraordinário raid de Francisco Pedroso Xavier ao norte do Paraguai e sul de Mato Grosso, os de Luís Castanho de Almeida e Antônio Soares Pais, no centro de Goiás, a enorme jornada de Domingos Jorge Velho, indo, em 1662, estabelecer-se no Piauí, na confluência do Parnaíba e do Poti, acomnpanhado, mais ou menos contemporaneamente, por Francisco Dias de Siqueira, o Apuçá, devassador das terras maranhenses. Lembremos ainda as expedições de Manuel de Campos Bicudo ao sul de Mato Grosso, de seu filho Antônio Pires de Campos, o primeiro Pai Pirá, em terras mato-grossenses e goianas, de Bartolomeu Bueno da Silva, o primeiro Anhangüera, em território dos dois atuais grandes Estados do Centro, de Manuel Dias de Lima no Paraguai e em região hoje argentina, etc.»

O historiador Capistrano de Abreu comenta que «ao tempo em que os conquistadores se batiam contra os índios de Paraguaçu e Ilhéus, prosperava à volta de São Paulo um grande número de vilas: Mogi das Cruzes, Parnaíba, Taubaté, Guaratinguetá, Itu, Jundiaí, Sorocaba, todas anteriores a 1680,» ao grande êxodo do último quartel do século XVII. Cada vila demandava destino diverso: »as do Paraíba do Sul apontavam para as próximas Minas Gerais, como Parnaíba e Itu para Goiás (Guaiaz) e Sorocaba para os campos de pinheiros em que já surgia Curitiba». Bastou o descobrimento do ouro para mobilizar toda essa força - ouro corrido, mas em abundância: a população que acudiu procedeu toda ou quase toda do planalto, especialmente do rio Paraíba do Sul, onde a estreiteza do vale, entre a Mantiqueira e a cordilheira marítima, produzia o efeito de condensador. E com a vitória dos emboabas, mais tarde, Sorocaba e Itu assumiram seu papel histórico, Tietê abaixo até a barra, rio Paraná até o rio Pardo, por este até o rio Paraguai, São Lourenço, Cuiabá, atingindo-se descobertos em que o ouro se apanhou às arrobas. E as dificuldade da viagem, que desde Araritiguaba ou Porto Feliz pedia quatro a cinco meses, através de mais de 100 saltos, cachoeiras, corredeiras, entaipavas. Cuiabá e Mato Grosso, para não sucumbir, terão que se desligar de São Paulo.

O governador Antônio Pais de Sande escreve ao Rei em 1693 sobre os paulistas: «São briosos, valentes, impacientes da menor injúria, ambiciosos de honra, amantíssimos da sua pátria, benéficos aos forasteiros e adversíssimos a todo ato servil, pois até aquele cuja muita pobreza lhe não permite ter quem o sirva, se sujeita antes a andar muitos anos pelo sertão em busca de quem o sirva, do que a servir a outrém um só dia.» Tinha razão: provam as rebeliões contra Salvador Correia, o aniquilamento das missões, a expulsão dos jesuítas, as desavenças com os espanhóis, as sublevações contra a alteração da moeda...

Podia haver distintas opiniões. Pois em carta datada de 19 de julho de 1692 o governador do Estado do Brasil Antônio Luís Gonçalves da Câmara Coutinho escreveu ao rei sobre as extorsões que cometera Francisco Dias de Siqueira nas aldeias de índios reduzidos no Maranhão:

«Os paulistas saem de sua terra e deitam várias tropas por todo o sertão e nenhum outro intento levam mais que cativarem o gentio da língua geral, que são os que já estão domesticados, e não se ocupam do gentio de corso porque lhes não servem para nada; assim que o intento destes homens não é o serviço de Deus nem o de Vossa Majestade e com pretextos falsos, passam de uns governos para outros e se lhes não fazem mostrar as Ordens que levam. Enganam aos governadores, como este capitão Francisco Dias de Siqueira fez ao governador do Maranhão Antônio de Albuquerque Coelho de Carvalho, dizendo-lhe que ia a descobrir aquele sertão por minha ordem, que tal não houve nem tal homem conheço, e com este engano pedem mantimentos, armas e socorro e depois com elas vão conquistar o gentio manso das aldeias e o gado dos currais dos moradores. Com que estes homens são uns ladrões destes sertões e é impossível o remédio de os castigar, porque se os colherem, mereciam fazer-se neles uma tal demonstração que ficasse por exemplo para se não atreverem a fazer os desmandos que fazem. Assim que me parece inútil persuadi-los a que façam serviço a Vossa Majestade porque são incapazes e vassalos que Vossa Majestade tem rebeldes, assim em São Paulo, onde são moradores, como no sertão, donde vivem o mais do tempo; e nenhuma Ordem do governo geral guardam, nem as leis de Vossa Majestade.»

As bandeiras em busca de ouro

As bandeiras de prospecção nasceram na metade final do século XVII. Na década de 1690 foi descoberto ouro nas serras gerais, o chamado Sertão do Cuieté, hoje o Estado de Minas Gerais. A interiorização do povoamento deu origem às capitanias de Minas (separada da capitania de São Paulo ainda na década 1720), Mato Grosso e Goiás. Principais bandeirantes foram Fernão Dias Pais, Antônio Rodrigues Arzão, Pascoal Moreira Cabral e Bartolomeu Bueno da Silva. Havia também figuras como Carlos Pedroso da Silveira, sócios e procuradores dos bandeirantes, com papel igualmente importante.

As bandeiras de contrato

Por fim, as de contrato visavam à destruição de quilombos. Destacou-se o nome de Domingos Jorge Velho, impiedoso na luta contra o quilombo de Palmares. Como ele, eram contratados pelos Governadores e senhores de engenho do nordeste e grandes proprietários pecuaristas.

Nos verbetes dedicados a Nicolau Barreto e a José Ortiz de Camargo há curiosas listas dos artigos que consistiam a bagagem de um bandeirante.

Legislação

Ainda se sonhava com ouro, em Espanha e Portugal. Prova, em 15 de agosto de 1603, o «Regimento das Minas do Brasil», feito em Valladolid por Filipe III em que diz o Rei: «que sou informado que nas partes do Brasil são descobertas algumas minas de ouro e prata e que facilmente se poderão descobrir mais» etc.

Está registrado no Rio de Janeiro em 29 de maio de 1652 e São Paulo a 9 de outubro de 1652 e, tardiamente, em São João del-Rei em 27 de outubro de 1729. Os paulistas, porém, só guerreavam índios, acostumados à vida das armas e tirando lucro de sua venda, não queriam ficar sedentários nem administrar as minas que desde 1603 o Rei lhes franqueara, mediante o pagamento do quinto.

Uma mudança de tratar as minas, quando descobertas, se lerá no verbete dedicado ao governador-geral e Capitão-mor D. João de Lencastre.

Bandeirantes famosos
Afonso Sardinha
Antônio Bicudo Leme
Antônio Dias Adorno
Antônio Dias de Oliveira
Antônio Raposo Tavares
Antônio Soares Ferreira
Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhangüera
Baltasar Fernandes
Belchior Dias Moréia
Manuel da Borba Gato
Braz Leme
Carlos Pedroso da Silveira
Henrique da Cunha Gago
Domingos Jorge Velho
Fernando de Camargo, o Jaguaretê
Fernão Dias Pais
Francisco Dias Velho
Gabriel de Lara
João de Faria Fialho
João de Siqueira Afonso
Lourenço Carlos Mascarenhas e Araújo
Manuel Preto
Nicolau Barreto
Pascoal Moreira Cabral
Pedro Vaz de Barros
Salvador Fernandes Furtado de Mendonça
Salvador Fernandes Furtado
Fernandes Tourinho
Simão Álvares

Bibliografia
BARBOSA, Waldemar de Almeida. Dicionário histórico-geográfico de Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 1995.
BRUNO, Ernani Silva. História do Brasil (geral e regional) (2ª ed., v. 4.). São Paulo: Cultrix, 1967.
CÓDICE Costa Matoso. Coleção das notícias dos primeiros descobrimentos das minas da América que fez o doutor Caetano da Costa Matoso sendo ouvidor-geral das de Ouro Preto, de que tomou posse em fevereiro de 1749 & vários papéis. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1999.
COSTA, Joaquim Ribeiro. Toponímia de Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 1993.
Ensaios Paulistas. São Paulo: Editora Anhembi, 1958.
HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil (4ª ed.). Brasília: UnB, 1963.
LEITE, Mario. Paulistas e mineiros, plantadores de cidades. São Paulo: Edart, 1961.
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REZENDE, Francisco de Paula Ferreira de. Minhas recordações. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1987.

Afonso sardinha

Afonso Sardinha houve dois, pai e filho, ambos versados em mineração e empenhados na procura de metais. Em 1589 os dois descobriram, em uma de suas excursões, minério de ferro no sopé do Morro Araçoiaba (próximo à atual cidade de Sorocaba). Afonso Sardinha, o Velho, morreu depois do filho, em 1616. Mas não há provas, a não ser no que escreveu Pedro Taques, de que esteve presente na descoberta das jazidas de minério de ferro de Araçoiaba e na construção do Engenho de Ferro.Índice [esconder]




A terra

No século XVI, a região de Sorocaba, era o ponto para onde convergiam e a que se limitavam os índios Tupi do rio Tietê, os Tupiniquins e os Guaianazes de Piratininga, os Carijós dos campos de Curitiba, os Guaranis de Paranapanema e outros das nascentes desse rio, sendo lugar muito percorrido e conhecido por diversas tribos , o que facilitou ao colonizador suas empreitadas. Por volta de 1589, numa entrada liderada por Afonso Sardinha, descobriu-se minério de ferro no Morro Araçoiaba.

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Afonso Sardinha o Velho

Não se pode afirmar quando Afonso Sardinha, português, chegou ao Brasil, à Capitania de São Vicente. Tampouco se sabe onde nasceu nem a data. Deve porém ter sido dos mais velhos moradores da Capitania. Ao chegar, foi morar na Capitania de Santos. Em seu testamento, fala em papéis de crédito que um pirata inglês lhe havia levado, em várias transações próprias de quem negocia com navios e cargas. Ao chegar a São Paulo, em data ignorada, mas anterior a 1570, montou depósitos de açúcar e adquiriu casas que alugava aos vigários. Finalmente adquiriu uma grande fazenda pelo que se diz que em 1580 seriam homem de posses. Fazia, no fim do século XVI, vir negros da África como escravos. Enviava mercadorias à Metrópole ao menos uma vez por ano. Analfabeto como quase todos, assinava o nome com uma cruz com três hastes. Em seu Testamento, de 13 de novembro de 1592, descreve seus bens , especialmente uma grande Fazenda que, segundo vários autores, seria na região de Parnaíba. Foi casado com Maria Gonçalves. Não tinha filhos com ela mas um, ilegítimo e mameluco, de alguma índia. No seu testamento, declara expressamente "o que faço por não ter herdeiro forçado( herança legítima) a quem de direito deva deixar a minha fazenda (bens) porque Afonso Sardinha, o Moço, é havido depois de eu ter casado com minha mulher e por eu já ter dado a ele o que devia lhe ter já dado de minha fazenda até 500 cruzados, nos quais entram as terras onde está no Amboaçava..." Era uma grande soma o que prova a sua riqueza.

Aparece pela primeira vez em Livros de Atas e de Registro da Câmara de São Paulo, em 1575, ao tomar posse como Almotacel. Depois, em 1576 e 1577, seu nome aparece como vereador. Entre 1578 e 1586, não há menção. Em 1587, foi eleito Juiz e se manteve vereador. Tomou posse em 27 de Janeiro. Teria vivido na Vila nos dois anos seguintes, pois, em 1592, foi nomeado para comandar um grupo (uma verdadeira bandeira) que avançou pelo sertão para acabar com as invasões dos índios. Aliás, em 1585 (fato que pode explicar sua ausência da Vila de São Paulo), tomou parte na expedição de Jerônimo Leitão para os lados de Paranaguá, para combater os índios Carijós.

Em 9 de julho de 1615 ainda, com sua mulher Maria Gonçalves, fez doação ao altar de Nossa Senhora da Graça do Colégio de Santo Inácio, da vila de São Paulo, de todos os seus bens móveis e de raiz, com terras de Carapicuiba, por serem casados há 60 anos sem herdeiros. Afonso Sardinha o Moço era bastardo e mesmo assim já morrera...

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Bandeirante

Diversas vezes comandou expedições militares contra os índios. Não foi, até 1593, membro de qualquer entrada para preagem de índios ou procura de ouro. Dedicava-se mais a negócios comerciais e residia na Vila de Santos, depois da de São Paulo), mas foi um Bandeirante, sendo inclusive nomeado «Capitão da Gente de São Paulo» para cuidar da defesa da Vila contra as incursões e dar fim ao gentio invasor.

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O grande feito: forja de ferro

Em 1591 no local se instalou a primeira usina siderúrgica : dois fornos rústicos e uma forja para produção de ferro. O empreendimento de Sardinha representou grande proeza mas, sem prosperar, encerrou suas atividades por volta de 1628, terminando assim o primeiro ciclo da exploração de Ipanema (Sorocaba). Este fato conferiu a Afonso Sardinha o título de Fundador da Siderurgia Brasileira.

Em 1597 mais duas pequenas forjarias foram construídas nas cercanias de Ipanema. Entretanto, pelo tratado de Methuen, de 1703, entre Inglaterra e Portugal, Portugal foi obrigado a destruir suas manufaturas na Europa e na Colônia, desestimulando qualquer empreendimento com forjas.

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Afonso Sardinha o Moço

Afonso Sardinha, o Moço ou o Mameluco, tinha acompanhado o pai em todos seus feitos e morreu pobre, no sertão, em meio a uma expedição guerreira.

D. Francisco de Souza havia enviado ao interior, pesquisar metais, Bento Maciel Parente e Diogo Martins Cão, e não obtendo resultado decidiu três entradas em 1596, partindo da serra dos Aimorés (a de Diogo Martins Cão), das costas de Parati (a de Martim Correia de Sá) e da vila de São Paulo (a de João Pereira de Souza Botafogo capitão-mor de São Vicente desde 14 de março de 1595, que não a realizou por ter sido preso por ordem real no meio da bandeira, e Domingos Rodrigues, fundidor de ferro trazido por D. Francisco do reino, chefiou um pedaço dela, dirigindo-se para a bacia do São Francisco e penetrando em território atualmente goiano, se deteve nas regiões de Paraupava). Dom Francisco chegou a São Paulo em maio de 1599 com grande comitiva e visitou então as minas de Afonso Sardinha o Moço, Bacaetava, São Roque e Jaraguá.

Dom Francisco em 1601 nomeou Diogo Gonçalves Laço capitão das minas de ouro e prata do Ibiraçoiaba: na ocasião, declarou Afonso Sardinha o Moço como seu descobridor, com Clemente Alvares. Eram minas, mas de flancos de montanha ou «grupiaras». Ordena no regimento a Laço aos dois Afonso Sardinha as diligências que somente serão executadas por Nicolau Barreto no ano seguinte, acompanhado por Afonso Sardinha, o Moço, que morreu no sertão em 1604.

Esta importante bandeira de Nicolau Barreto teve início em agosto de 1602. Partiu de São Paulo, autorizado Nicolau por Dom Francisco a descobrir ouro e prata (o objetivo real teria sido a pesquisa de ouro e prata no Peru). Desceram o rio Tietê e o rio Paraná, atingiram o Guairá mas trouxeram apenas índios e de volta a São Paulo, onde chegaram em 1604. Haviam-na integrado Afonso Sardinha o Moço, Simão Borges Cerqueira, fidalgo da Casa Real, Ascenso Ferreira, Pedro Leme, Manuel Preto, Francisco de Alvarenga. Pensa-se que queriam na verdade penetrar no reino do Peru à procura de minas, já que o mesmo soberano dominava o continente. Desta bandeira resultou que o governador Dom Francisco Arias de Saavedra, adiantado do Rio da Prata, mandou por terra a São Paulo emissários para falar com Dom Francisco de Souza, que impediu o quanto pode a ida de bandeiras escravagistas.

Afonso o Moço fez testamento em 1604 no sertão, que se pode ler em Silva Leme, volume I, página 76. Foi escrito pelo padre João Alvares, um dos capelães. Nele declara possuir 80.000 cruzados de ouro em pó, enterrado em botelhas de barro. Declara ser descobridor das minas de ouro no Brasil, nas serras de Jaguamimbaba, hoje Mantiqueira, na de Jaguara, termo de São Paulo, na de Vuturuna, termo da vila de Parnaíba, e na de Hiriraçoiaba ou Araçoiaba, termo de Sorocaba; fez também dois engenhos de ferro em que fundia com abundância tal metal, tudo à sua custa, circa 1590. Declara que desde 1592 morava na Embuaçava, terras dadas pelo pai.

Iniciador do ciclo do ouro das Minas de São Paulo, descobrira ouro de 1589 a 1600 na serra da Mantiqueira, em Guarulhos, Jaraguá, São Roque e Ipanema onde também encontrara ferro. Seu companheiro nas diligências era Clemente Álvares, mineiro prático. Em 1598, com outros Paulistas e mais de 100 índios, fizera entrada para «saltear índios» e descobrir metais, supondo-se que atingiu nas Minas Gerais o sertão do Jeticaí. Com seu filho Pedro Sardinha, também grande sertanista, desenvolveu os trabalhos de mineração no Jaraguá, que Brás Cubas tentara, mina donde diz ter extraido 80 mil cruzados e que o neto Gaspar Sardinha ainda explorava em 1636 com lucro. Deixou dois filhos legítimos, Luzia e Pedro.